
Os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica do Estado do Tocantins (SAETO) 2024, divulgados pelo Governo do Tocantins, escancaram uma realidade alarmante no Bico do Papagaio: a educação básica está em colapso em alguns dos seus municípios. Itaguatins e Maurilândia, com os ínfimos percentuais de 19,67% e 20,93% de crianças do 2º ano do ensino fundamental em nível adequado de alfabetização, ocupam as últimas posições entre as cidades avaliadas na região. Enquanto isso, Tocantinópolis, o segundo maior município e berço cultural do Bico, registra um desempenho igualmente vergonhoso, com apenas 36,07% dos estudantes alfabetizados adequadamente. Os números não apenas refletem uma crise pedagógica, mas também acendem um alerta sobre as consequências sociais e econômicas que essa negligência pode trazer.
Itaguatins e Maurilândia: O Fundo do Poço Educacional
Com menos de um quinto das crianças do 2º ano alfabetizadas no nível esperado, Itaguatins (19,67%) e Maurilândia (20,93%) são retratos de um sistema educacional à deriva. Esses índices não são apenas números frios; eles representam uma geração de estudantes condenada ao analfabetismo funcional, com chances reduzidas de romper o ciclo de pobreza que já marca a região. A falta de políticas eficazes, infraestrutura precária e a possível desvalorização do magistério local são apontadas como causas prováveis desse fiasco.
O impacto vai além das salas de aula. Com esses resultados, Itaguatins e Maurilândia correm o risco de perder uma fatia significativa dos recursos do ICMS Educacional, mecanismo que destina até R$ 100 milhões às prefeituras com base em indicadores como aprendizagem, atendimento e inclusão. Para municípios que dependem desses repasses para sobreviver, o desempenho pífio no SAETO é um tiro no pé financeiro. Sem investimentos urgentes e um choque de gestão, essas cidades estão fadadas a perpetuar a exclusão educacional e a miséria.
Tocantinópolis: O Berço Cultural que afunda na ignorância
Se o quadro de Itaguatins e Maurilândia já é desolador, o desempenho de Tocantinópolis (36,07%) é um escândalo à parte. Segunda maior cidade do Bico do Papagaio e referência histórica e cultural da região, o município deveria ser um exemplo de excelência educacional. Em vez disso, o SAETO revela que quase dois terços dos seus alunos do 2º ano não sabem ler e escrever no nível esperado. Para uma cidade que se orgulha de sua tradição, o resultado é um atestado de incompetência administrativa e um tapa na cara de sua própria identidade.
A situação de Tocantinópolis expõe uma contradição gritante: como um polo regional, com maior acesso a recursos e infraestrutura em comparação a cidades menores, pode apresentar um desempenho tão medíocre? A resposta pode estar na falta de prioridade dada à educação básica. Enquanto outras cidades do Bico, como Cachoeirinha (64%), mostram que é possível alcançar resultados decentes mesmo em contextos desafiadores, Tocantinópolis parece confortável em sua estagnação. O município, que deveria liderar a região, torna-se um símbolo de oportunidades desperdiçadas.
Perspectivas Sombrias
Os péssimos resultados de Itaguatins, Maurilândia e Tocantinópolis no SAETO 2024 não são apenas um problema imediato — eles projetam um futuro sombrio para o Bico do Papagaio. Crianças que não aprendem a ler e escrever adequadamente no início da trajetória escolar têm maior probabilidade de abandonar os estudos, engrossar as estatísticas de evasão e, mais tarde, enfrentar o desemprego ou a informalidade. Em uma região já marcada por desigualdades, esses índices são um prenúncio de estagnação social e econômica.
A ligação com o ICMS Educacional agrava o cenário. Com desempenhos tão baixos, esses municípios dificilmente atenderão aos critérios de aprendizagem, que representam 2,5% da distribuição dos recursos. Menos dinheiro significa menos investimentos em educação, num ciclo vicioso que pune justamente os mais vulneráveis. Enquanto o Governo do Tocantins celebra o SAETO como uma ferramenta de diagnóstico, a falta de ações concretas para reverter esse quadro levanta dúvidas sobre a eficácia do sistema. Diagnóstico sem remédio é apenas constatação de fracasso.
Um Chamado à Responsabilidade
Itaguatins, Maurilândia e Tocantinópolis precisam encarar os resultados do SAETO como um ultimato. Não há mais espaço para desculpas ou promessas vazias. A educação básica é a base de qualquer sociedade que aspire ao progresso, e o que se vê nesses municípios é uma traição ao futuro de suas crianças. Se as gestões locais não reagirem com medidas drásticas — como capacitação de professores, melhoria das condições das escolas e engajamento das famílias —, o Bico do Papagaio continuará refém de um atraso que, a esta altura, já não pode ser disfarçado.