O primeiro dia da nova tarifa de ônibus foi marcado pela insatisfação dos passageiros com o serviço prestado pelas companhias de transportes públicos. A superlotação, os problemas mecânicos e falta de infraestrutura para transportar portadores de necessidades especiais foram os principais problemas apontados pelos usuários. Cobradores também reclamam da dificuldade de devolver o troco aos passageiros.
Para a estudante Débora Santos o aumento é absurdo. ‘As condições dos ônibus são péssimas’. Ela afirma que seria favorável ao aumento da tarifa se as empresas proporcionassem mais conforto aos clientes. Assim como ela, a técnica de enfermagem Elaine Nascimento também reclama da qualidade dos serviços prestados pelas companhias de transportes coletivos. ‘O preço das passagens está aumentando com muita frequência, mas a qualidade não melhorou’, declara.
Elaine mora no bairro Murinim, em Benevides, e trabalha no bairro Batista Campos, em Belém. De segunda-feira a sexta-feira, ela e o marido pagam oito passagens de ônibus para ir e voltar do trabalho. O aumento da tarifa significará R$ 24 – ou 8 quilos de feijão – a menos no final do mês para o casal. Ainda assim, ela diz que o que mais incomoda não é o preço da tarifa, mas as péssimas condições dos veículos: ‘Quando chove, molha mais dentro do ônibus do que fora. Uma vez, quando chegou em Ananindeua, um dos passageiros desceu e avisou ao motorista que estava saindo fumaça do ônibus. Só deu tempo dos passageiros descerem e o ônibus pegou fogo. Quando não é isso, é ônibus que dá prego, que perde a roda’, conta.
Outro problema apontado pela usuária é a superlotação. ‘Nos horários de pique, as pessoas vão na porta do ônibus. Quando chega na Almirante Barroso, muitas vezes o motorista não para porque não tem mais onde colocar gente. O meu marido, que sai do trabalho às 22h15, já chegou em casa uma hora da manhã por conta disso’, afirma. Para ela, deveria have mais ônibus para fazer o percurso nos horários de tráfego intenso.
Troco
Apesar da insatisfação dos passageiros, os cobradores afirmam que o primeiro dia da nova tarifa foi tranquilo. ‘Até agora, os poucos que não sabiam do novo preço da passagem, trouxeram dinheiro a mais e pagaram a diferença’, declara o cobrador da estação Marex, Lauro Ribeiro. Para evitar problemas, Jader Castro, cobrador da linha Distrito Industrial-Pátio Belém, diz que começou a se organizar com um dia de antecedência. ‘Como eu já sabia que a tarifa ia mudar, procurei organizar o troco direitinho’, alega. Ainda assim, ele diz que ouviu reclamação dos passageiros. ‘Eles queriam que a passagem ficasse em R$ 1,80’.
Quando não é possível dar o troco certo, alguns cobradores optam por tirar dinheiro do próprio salário. É o que alega a cobradora da linha Conjunto Maguari-Ver-o-Peso, Gislane Souza. ‘Como muitas vezes não tenho R$ 0,15 para dar de troco aos passageiros, tenho que dar moedas de R$ 0,25. Mas a quantia a mais sai do meu bolso’, declara.
Cadeirantes ainda sofrem nas paradas. ‘Perueiros’ manterão preços.
A infraestrutura da frota é questionada principalmente por portadores de necessidades especiais. O estudante e atleta do All Star Rodas, Breno do Carmo, conta que usa o ônibus várias vezes por dia. ‘Como tenho uma rotina, os motoristas já me conhecem. O problema é quando tenho que pegar ônibus em paradas diferentes. Muitos motoristas nem param para não ter o trabalho de me ajudar’, denuncia.
Ele alega que os ônibus adaptados para portadores de deficiência física não conseguem suprir a demanda da cidade. ‘Os ônibus adaptados para cadeirantes são poucos e a maioria dos elevadores não funciona’. Para ele, os aumentos tarifários que aconteceram anteriormente não melhoraram a situação de grande parte dos ônibus. ‘Algumas empresas renovaram suas frotas, mas a maioria ainda permaneceu com os mesmos problemas de antes dos aumentos’, opina.
Com o aumento do preço das passagens dos coletivos, motoristas de transportes alternativos mantiveram o preço da passagem a R$ 1,50 e garantiram carros lotados. É o caso do motorista de van Jerry Lima. Ele diz que não pretende aumentar o preço da passagem. ‘Dá para ganhar dinheiro com o preço que estava, não tenho porque aumentar’. O preço mais baixo atraiu novos clientes para o alternativo. ‘Sempre preferi andar de ônibus porque é mais seguro. Quando a gente entra em uma van, não dá para saber nem se o motorista tem carteira. Mas com o aumento da passagem, a gente começa a repensar’, afirma a comerciante Marilene Souza.
Conselheiros não votam reajuste
Os cinco conselheiros que não votaram na última reunião do Conselho Municipal de Transportes de Belém (Ctbel) poderiam ter mudado o rumo história que resultou no aumento das passagens do transporte coletivo. O reajuste na ordem de 8,82% sobre o valor de R$ 1,70 foi estipulado pelo prefeito de Belém, Duciomar Costa, após o Conselho aprovar um acréscimo de quase 12%, com nove votos a favor e quatro contrários ao aumento.
Ao todo o conselho conta com 18 votos, distribuídos entre 17 organismos públicos e entidades da sociedade civil. Pelo menos três conselheiros não compareceram a reunião e um não foi indicado em tempo hábil, conforme determina o regimento da comissão.
As planilhas com o cálculo da proposta de reajuste elaboradas pela Companhia de Transporte do Município de Belém (Ctbel) e pelo Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Belém (Setransbel) foram encaminhadas aos conselheiros nos dias 26 e 27 de janeiro. A reunião aconteceu na segunda-feira, dia 1º de fevereiro, ou seja, no mínimo 96 horas após o envio das planilhas. O período estipulado pelo Conselho para avaliação das documentações é de 72 horas. Mesmo assim, a maioria dos conselheiros faltosos afirma que este prazo é muito curto.
Dos quatro órgãos e entidades que não votaram sairiam cinco votos. O Departamento de Trânsito do Estado do Pará (Detran) possui dois assentos no Conselho Municipal de Transporte, que representam o órgão executivo rodoviário e o órgão executivo de trânsito. Ambos não participaram da reunião. O outro representante do Estado é o Comando de Policiamento da Capital (CPC), que também esteve ausente. O Sindicato dos Rodoviários de Belém e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese -Pará) completam a lista de conselheiros que não votaram. O Dieese-Pará chegou a participar do encontro, porém, por não ter encaminhado o nome do representante dentro do período estipulado pelo órgão mantenedor do Conselho – a Ctbel -, passou da condição de votante para ouvinte. (O Liberal)




