Citado nos livros sobre a guerrilha do Araguaia como um dos mais ativos militares na campanha contra os militantes do PC do B, o sargento reformado João Santa Cruz Sacramento, 77, reivindica da União o pagamento de R$ 500 mil como indenização por supostos danos morais e sequelas psíquicas e físicas decorrentes da campanha na selva amazônica.
Por intermédio de seus filhos, os jornalistas Flávio e Fábio Sacramento, o militar informou à Folha ter condições de indicar em Marabá (PA), São João do Araguaia (PA) e Xambioá (TO) –municípios onde morreu a maior parte dos guerrilheiros– possíveis locais clandestinos de sepultamento.
Em 4 de setembro de 2001, o sargento Santa Cruz prestou um depoimento secreto à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Disse que “nunca houve um confronto” entre militares e guerrilheiros. “Eles já andavam era correndo da gente. Não estavam mais enfrentando ninguém, não, porque estavam praticamente passando fome, eles não tinham condições. E eles não tinham realmente armamento para combater o Exército”, disse Santa Cruz, segundo a transcrição do depoimento, obtida pela Folha.
Do depoimento participou Flávio Sacramento, diretor-presidente do “Correio do Pará”, jornal com sede em Parauapebas (670 km ao sul de Belém). Ele passou parte de sua infância e adolescência na fazenda Bacaba, onde morava com o pai, a mãe, uma irmã e o irmão Fábio. A Bacaba serviu de base militar na campanha contra os guerrilheiros rurais do então clandestino PC do B.
Para ter o sargento na ação antiguerrilha, o Exército permitiu que ele trouxesse a família para viver na Bacaba a partir de 1973, início da ação de extermínio promovida pelo governo militar contra os guerrilheiros. Santa Cruz ingressara no Exército 23 anos antes. Era considerado o mais capacitado militar brasileiro em ações de selva.
Flávio confirmou à Folha algumas informações do depoimento, como a de ter visto em sua casa na Bacaba a guerrilheira Luíza Garlippe, a Tuca, capturada em 1974. Seu nome consta da lista de desaparecidos no Araguaia –cerca de 60.
O irmão Fábio, 40, lembrou ter visto uma ossada junto da pista de pouso da Bacaba, local que será vasculhado pela comissão que há uma semana circula pelo Araguaia à procura de restos mortais dos guerrilheiros. “Eu estava “passarinhando” ali quando vi a ossada. Era pequeno, mas nunca me esqueci”.
A comissão encerrou o trabalho em três das quatro áreas escolhidas nesta primeira fase de buscas –nada foi encontrado. (Sérgio Torres – Folha Onine)