
Enquanto fiéis celebravam a presença simbólica de Cristo no pão e no vinho consagrados, dois velhos conhecidos da política tocantinense decidiram transformar o feriado de Corpus Christi em um altar de ambições pessoais. Sem bênçãos partidárias, apoios visíveis ou comitivas fiéis, o ex-governador Mauro Carlesse e o ex-senador Ataídes Oliveira se lançaram, quase em silêncio, como pré-candidatos ao governo do Tocantins.
A coincidência com a data religiosa não passou despercebida. No dia em que a Igreja Católica reverencia o Corpo de Cristo, Carlesse e Ataídes fizeram de si mesmos seus próprios sacramentos eleitorais. O primeiro ressurgiu pelas mãos de um ex-prefeito do Bico do Papagaio, Vidal Moreno, que divulgou um vídeo caseiro anunciando a nova (ou velha) intenção de Carlesse em retornar ao poder. Já Ataídes optou por um gesto ainda mais solitário: apareceu, de forma quase messiânica, sozinho diante de seu shopping em Gurupi, declarando sua pré-candidatura à sombra das colunas comerciais que construiu.
Nenhum dos dois apresentou coligações, alianças ou apoios explícitos. Foram lançamentos sem fiéis, sem procissão, e, até o momento, sem milagres de popularidade. A fé na viabilidade das candidaturas parece ser, por ora, um ato de esperança pessoal — ou talvez de autoindulgência política.
Em tempos de descrença generalizada e romarias eleitorais cada vez mais pragmáticas, o movimento dos dois ex-mandatários soa como uma homilia vazia em praça pública. No altar da política tocantinense, eles acenderam suas velas — resta saber se alguém vai dizer “amém”.




