
A morte da pequena Cibelly Apinajé, de apenas seis meses, no Hospital Regional de Augustinópolis, reacende o alerta sobre as persistentes deficiências na oferta de saúde pública para populações indígenas no Bico do Papagaio. A bebê, pertencente ao povo Apinajé, faleceu enquanto aguardava por um leito de UTI que jamais chegou a ser disponibilizado. A família denuncia demora no atendimento e falhas graves na condução do caso por parte da equipe médica.
Segundo relatos dos familiares, a criança já apresentava sinais de agravamento do quadro clínico havia dias, mas só foi internada no sábado, 7, após insistência da família. Mesmo diante dos sintomas evidentes de piora, a solicitação por uma vaga em terapia intensiva só teria sido feita na madrugada da terça-feira, 10, horas antes da morte. A Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) alega que, inicialmente, o quadro da bebê era considerado estável e que a transferência foi solicitada apenas após o agravamento.
A perda da criança não é um caso isolado. A Defensoria Pública do Estado aponta que ao menos dez indígenas Apinajé morreram recentemente sem diagnóstico preciso, atendimento médico adequado ou acesso a exames. Em muitos casos, a precariedade do transporte entre as aldeias da etnia, situadas na divisa entre Tocantins e Maranhão, impede que os pacientes sequer cheguem aos hospitais.
O episódio expõe uma estrutura de saúde ineficiente e desigual, que compromete diretamente o direito à vida e ao atendimento digno para povos indígenas. Entre a escassez de leitos, a burocracia para transferências e a falta de suporte nas comunidades, casos como o de Cibelly revelam uma negligência sistêmica que continua a cobrar vidas silenciosamente.