A suspensão temporária do sistema europeu de entrada e saída no principal aeroporto de Lisboa expôs fragilidades operacionais que vinham sendo sentidas por passageiros há semanas. A medida, anunciada após registros de filas que chegaram a até nove horas de espera, vale inicialmente por três meses e se restringe ao terminal lisboeta, onde o congestionamento se tornou recorrente, sobretudo na chegada de voos intercontinentais. O controle migratório segue ativo, mas retorna provisoriamente ao modelo manual, substituindo a triagem automatizada recém-implementada.
O Entry/Exit System (EES) foi concebido pela União Europeia para modernizar o controle de fronteiras externas, automatizando registros de entrada e saída de viajantes de fora do bloco e reforçando a segurança. Na prática, porém, a implementação revelou um descompasso entre tecnologia e capacidade operacional. A promessa de fluidez acabou contrastando com a experiência real de longas esperas, indicando que sistemas digitais, sem ajustes logísticos e humanos compatíveis, podem gerar o efeito inverso ao esperado.
A decisão também reacendeu o debate sobre planejamento e testes em ambientes de alto fluxo. A resposta emergencial incluiu reforço de efetivos e reorganização de filas, mas permanece a dúvida sobre a suficiência dessas medidas diante de picos sazonais de demanda. Se o gargalo persiste mesmo com reforços, o problema parece menos conjuntural e mais estrutural, exigindo revisão de processos, treinamento contínuo e adequação do desenho do sistema à realidade do terminal.
Os reflexos extrapolam o desconforto individual e alcançam a imagem do país como destino turístico e porta de entrada da Europa. A experiência na fronteira influencia decisões futuras de viagem e a percepção de organização institucional. Nesse contexto, a suspensão temporária no Aeroporto Humberto Delgado pode servir como janela de correção: ajustar tecnologia, dimensionar recursos e alinhar eficiência com previsibilidade. O desafio é transformar a pausa em aprendizado, evitando que a modernização, sem preparo suficiente, continue a penalizar quem chega.




