A comunidade do Assentamento 17 de Abril, no município de Eldorado do Carajás, aguarda ansiosa pela inauguração da escola de ensino fundamental e médio Oziel Alves Pereira, construída pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Educação (Seduc).
A obra, além de histórica, conta com laboratório de informática, auditório, refeitório e uma quadra de esporte revestida com piso especial. O investimento financeiro de R$ 4,5 milhões se perde diante do alcance social e da melhoria na qualidade da educação local.
O Assentamento 17 de Abril reúne cerca de 690 famílias, sendo algumas delas descendentes diretas dos sobreviventes dos trabalhadores rurais que tiveram suas vidas marcadas pelo episódio de Eldorado do Carajás, ocorrido na curva do S, em 1996. Em 14 anos de existência, o assentamento dá lição de organização social e não esconde o sentimento de gratidão dirigido à governadora Ana Júlia Carepa, “que tem dado apoio para nossa comunidade”, afirma Jean Carlos da Silva, diretor da Associação dos Moradores e Trabalhadores Rurais do Assentamento 17 de Abril.
A escola nova tem 12 salas de aulas, refeitório, auditório, laboratórios e quadra de esportes. A antiga, erguida de madeira no centro do assentamento, já foi derrubada pela comunidade. “Ninguém aguentava mais; quando chovia, molhava tudo e não tínhamos a menor condição de trabalho”, conta Rivanda Azevedo Almeida, coordenadora pedagógica da escola do assentamento, também responsável pelo processo de matrícula do calendário 2010. “Vamos matricular até o dia 2 de fevereiro, quando termina o prazo e quando começa o período letivo”, explica.
A boa notícia da pedagoga é que os estudantes do assentamento têm bom rendimento escolar. A taxa de evasão é quase zero e o índice de repetência também acompanha o mesmo percentual. A preocupação dos professores é quanto ao destino dos alunos que encerram o ensino médio. “Temos que pensar no futuro desses jovens. Eles precisam ter qualificação profissional para não se tornarem outros sem-terra como foram seus pais”, comenta Jean Carlos, da associação, que também defende um projeto de esporte e lazer para manter os jovens do assentamento longe dos vícios das drogas e do álcool.
Esperança
Movidos pelo ideal de reconstrução, os trabalhadores rurais mantêm viva a esperança de melhorar sempre. Além da regularização dos lotes de terras, a comunidade quer agora empreender projetos de pavimentação das ruas, ganhar uma unidade de saúde avançada com médicos 24 horas, além de cursos para profissionalização dos jovens. Com a escola nova, a comunidade recebeu mais um espaço digno para desenvolver suas atividades de educação, esporte, lazer e produção de conhecimento.
O Assentamento 17 de Abril hoje é referência para outros dois acampamentos de trabalhadores rurais: Cabano e Canudo, também em Eldorado do Carajás. As obras no local são bem estruturadas. As casas são de alvenaria, tem água encanada e, segundo os trabalhadores, não falta comida para ninguém, já que todas as famílias possuem roças com plantação de feijão, arroz e mandioca. A criação de gado leiteiro também já está sendo introduzida na economia local.
Para as famílias que aguardam pela inauguração da escola está a de Luiza Santos da Cruz, 55 anos, que pretende matricular o neto. Outra dona de casa, Maria dos Remédios, 40 anos, quer voltar a estudar. Ela abandonou os estudos na 5ª série do ensino fundamental. “Agora quero voltar a estudar nesta escola bonita”, brinca.
A jovem Regiane Costa da Natividade, 15 anos, não esconde a ansiedade de poder frequentar a nova escola. “Esse local é um sonho para nós. Eu nasci aqui no assentamento e não quero sair daqui nunca mais. Eu não sei o quero ser como profissional, mas nesta escola eu vou encontrar minha aptidão”, disse. A jovem Regiane é filha de José da Natividade, um dos sobreviventes da tragédia de Eldorado do Carajás.
O nome da escola, Oziel Alves Pereira, foi escolhido pela comunidade. Segundo Maria Zelzuita Oliveira, secretária da Associação dos Moradores do Assentamento, Oziel, uma das vítimas da tragédia da curva do S, tinha apenas 17 anos quando foi morto. “Ele era nosso amigo e vinha do acampamento dos Palmares. Nossa comunidade não se esquecerá do Oziel e nem dos outros companheiros”, conta emocionada. “Por isso, queremos agradecer a governadora Ana Júlia pela obra que vai melhorar a educação das nossas crianças e manter vivo o nosso ideal”. (Selma Amaral)




