O dia de festa dos tucanos terminou com o gosto amargo da ressaca. De Bertioga, onde se autoexilou desde a derrota tucana para os petistas em 2006, o ex-governador Almir Gabriel anunciou sua desfiliação do PSDB, partido que ajudou a fundar há 21 anos.
Num comunicado, ditado por telefone, Almir Gabriel, explica que tomou a decisão “em razão dos atuais desvios dos princípios políticos e éticos que alicerçavam” o PSDB do Pará. Também lamentou a escolha de Simão Jatene como pré-candidato ao governo, segundo ele, “fundada na tola e odiosa discriminação aos idosos”. Aos 77 anos, Gabriel afirmou na última entrevista que concedeu que estava pronto para governar mais uma vez o Pará. “Estou feliz da vida e nenhuma junta dói”, brincou, em reportagem publicada neste jornal 20 dias antes do anúncio do acordo entre Mário Couto e Jatene que garantiu ao último a pré-candidatura tucana ao governo.
A saída de Almir Gabriel do PSDB representa o fim de uma era dentro do partido e é o saldo de uma queda-de-braço com o ex-amigo e pupilo Simão Jatene. Em 2002, Almir com a teimosia com que ficou conhecido, enfrentou aliados e tucanos de todas as plumagens para fazer do então secretário de Produção, Simão Jatene, o governador do Pará. Numa eleição disputadíssima com a candidata petista Maria do Carmo, Jatene se elegeu, mas quatro anos depois, não concorreu à reeleição, embora pesquisas encomendadas pelo PSDB apontassem alto índice de aprovação do governo. Gabriel foi o candidato e acabou derrotado por Ana Júlia Carepa. Mudou-se para Bertioga e só voltou ao noticiário político no início deste ano, lutando para fazer de Mário Couto o candidato ao governo contra Simão Jatene, de quem o ex-governador se tornou desafeto. Almir Gabriel culpava o ex-pupilo pela derrota em 2006 a quem acusava de ter feito “corpo mole” durante a campanha.
A escolha de Jatene como o candidato não teria deixado a ele outra opção senão deixar o partido. Um dos fundadores do PSDB nacional, o médico Almir Gabriel foi prefeito de Belém, senador da República e candidato à vice-presidência na chapa de Mário Covas em 1989. Governou o Pará por dois mandatos entre 1994 e 2002.
O presidente do PSDB do Pará, senador Fernando Flexa Ribeiro, admitiu que Gabriel já acenava com a decisão de deixar o partido, mas afirmou que ainda havia esperanças de demovê-lo da ideia, tarefa que foi dividida entre as lideranças paraenses e nacionais do PSDB. “O que nos surpreende é o fato de ele ter antecipado a decisão”, afirmou Flexa Ribeiro, dizendo não ver razões para o ex-governador deixar a legenda, já que todos só seguiram as lições que aprenderam com ele. “Sempre seguimos e vamos continuar seguindo a orientação que ele deu a todos nós”, completou o senador, para quem Almir foi e será sempre presidente de honra da legenda. “Só tenho a lamentar. Ele não nos deu a possibilidade de continuar as conversas que vínhamos tendo”.
O líder do PSDB na Assembleia, deputado José Megale, disse lamentar a saída, mas afirmou que Almir estava ausente da vida no partido. “(Ele) Já tinha se despedido da vida partidária em outros momentos. Só lamento. Ele era uma pessoa emblemática”, disse Megale, para quem “a vida continua”.
O senador Mário Couto não foi encontrado para falar do assunto. O ex-governador Simão Jatene informou, por meio da assessoria de imprensa, que queria primeiro ver o comunicado de Almir para depois comentar. (Diário do Pará – Foto: Alex Ribeiro)




