Relatórios técnicos apontam uma série de falhas estruturais graves em dezenas das 884 casas construídas para as quebradeiras de coco da região do Bico do Papagaio, e entregues em 2009, durante o governo do ex-governador Marcelo Miranda (PMDB).
Os 32 relatórios, realizados por engenheiros e arquitetos da Secretaria de Habitação, trazem várias fotos de rachaduras, a maioria provocadas pela falta de vigas que “amarrem” as paredes para suportar o peso da cobertura. Em muitos casos o peso da caixa d’água provocou as rachaduras. Outras casas apresentam infiltrações no piso e danificação da calçada por má compactação do solo. Há problemas também de esquadrias mal instaladas, que estão sofrendo oxidação e uso de materiais inferiores ao que estava previsto na planta das casas.
Segundo os relatórios, os problemas foram identificados em obras nos municípios de Praia Norte, São Miguel, Buriti do Tocantins, Carrasco Bonito e Axixá do Tocantins.
Em alguns casos, para conter as rachaduras, as construtoras responsáveis pela obra, Ro Tranqueira e Sabino Engenharia, fizeram os chamados “grampos” nas paredes, inserindo barras de ferro com cimento. Uma casa, no município de Praia Norte, teve todas as suas paredes “cintadas”, com uma fina viga de ferro, numa tentativa da construtora Sabino Engenharia para conter as rachaduras. Os relatórios apontam que na maioria dos casos as empresas não cumpriram o que estava descrito no memorial.
No relatório sobre a situação das casas construídas no povoado de 20 mil, município de Carrasco Bonito, os técnicos da Sehab afirmam que os problemas recorrentes são calçadas apresentando trincas e rachaduras, por falta de compactação adequada do solo. “Em quase todas as unidades está ocorrendo infiltrações nas paredes do banheiro devido ao recalque por falta de compactação do solo e também pela má execução do rejuntamento das cerâmicas, deteriorando assim a argamassa das paredes do entorno do banheiro e deixando as cerâmicas saturadas de água , afirmam.
Em Axixá do Tocantins, um relatório sobre a visita de seis técnicos, entre engenheiros e arquitetos, realizada no dia 26 de abril, sobre as casas construídas pela construtora Rio Tranqueira mostra que as casas estão em “Situação de Emergência”. Em uma das casas, há rachaduras nas paredes de apoio da estrutura do telhado e da caixa d’água. “Houve tentativa de conter a deformação do telhado com a colocação de ‘mão francesa’ com função de escora do vão central da cobertura. Essa escora de madeira está causando um esforço adicional à alvenaria de vedação. Segundo informações de Beneficiários, essa escora foi executada posteriormente, pela própria Empresa Executora, ao término da obra”, diz o relatório.
O investimento na construção das 884 casas populares para as quebradeiras de coco foi de R$ 22 milhões, com recursos oriundo do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), e contrapartida estadual. O convênio foi firmado entre a Secretaria da Habitação e Caixa Econômica Federal, tendo a Secretaria da Infraestrutura como interveniente e executora das obras. Nos relatórios, os técnicos afirmam ainda que não houve fiscalização para o controle de qualidade. As obras eram fiscalizadas pela Secretaria de Infraestrutura.
O secretário de Habitação na época da entrega das casas, Aleandro Lacerda, afirmou que o contrato com as construtoras prevê um seguro para as unidades habitacionais que apresentarem problemas estruturais decorrentes da construção, por um período de cinco anos. “Nesses casos, as empresas podem ser notificadas pelo Estado a repararem os danos, após um relatório técnico que aponte os problemas”, explicou, acrescentando que as duas empresas apresentaram certificados do Programa Brasileiro de Qualidade da Habitação (PBQH).
Lacerda afirmou também que boa parte dos problemas causados pode ser de responsabilidade dos próprios moradores. “Muitos problemas são inerentes à manutenção da moradia. Se eles não souberem dar a manutenção das casas, mais cedo ou mais tarde elas irão apresentar algum problema”, afirmou. |Portal CT|




