A tuberculose multirresistente (TBMR), causada por um tipo de bacilo que já adquiriu resistência aos tratamentos convencionais, avança de forma preocupante no Brasil. O Pará está em 4º lugar no ranking nacional e concentra 72% dos casos diagnosticados na Região Norte. A coordenadora do setor de Tuberculose Multirresistente do Hospital Universitário Barros Barreto, Ninarosa Cardoso, abordou o tema, em mesa redonda na manhã de ontem, no último dia do 16º Congresso Médico Amazônico.
O abandono do tratamento antes de sua conclusão é uma das principais causas do desenvolvimento de cepas resistentes do bacilo. ‘Essa resistência adquirida se dá através da falta de medicamentos ou do abandono deste pelo paciente. Isso é um fenômeno universal, muitas vezes esse abandono está associado a outros problemas, como o alcoolismo ou o consumo de drogas’, explicou a médica. A doença também pode ser desenvolvida quando os profissionais de saúde administram doses inadequadas de medicamentos, ou fazem prescrições equivocadas, com prazo de validade vencido, ou de má qualidade.
A quantidade de casos contabilizados representa, segundo estudos de algumas universidades do Brasil, apenas 20% dos casos reais. ‘Se estes casos não estão nos hospitais ou em tratamento, ainda estão nas comunidades, possivelmente contaminando outras pessoas’, disse. No Pará, estimasse que 47% dos casos são reportados, um número acima da média nacional, mas que deixa mais da metade dos doentes de fora das estatísticas.
Somente no ano de 2012, no Pará, dezenove casos já foram referidos para tratamento no HUBB, o que representa um aumento considerável sobre os anos anteriores. De acordo com dados do Ministério da Saúde, entre 2001 e 2010, os casos de TBMS no país passaram de 334 para 607, um aumento de 82%. O aumento ocorre em vários países e preocupa os profissionais de saúde dedicados ao tratamento da tuberculose.
Outro fato constatado pela pesquisa é que Belém não concentra mais os casos de TBMR. ‘Antes, a capital apresentava quase a totalidade dos pacientes, hoje em dia, estes se encontram espalhados em vários municípios’, comparou. Entre todos os casos reportados no país, 88% apresentam cepas do bacilo desenvolvidos pelo próprio paciente, após o abandono do tratamento, entretanto, 12% destes enfermos são vítimas deste comportamento do demais. ‘Estas pessoas já foram contaminadas com um tipo de bacilo resistente, desenvolvido no organismo de outra pessoa, este risco também existe’, alertou a coordenadora.
A tuberculose multirresistente apresenta um tempo de adoecimento de um a oito anos, com média de três anos. ‘Os familiares, em sua maioria os filhos, já estão contaminados, mas ainda não apresentam sintomas. Existe uma dificuldade muito grande em se realizar a testagem nestas pessoas, pois as famílias mais carentes não têm condições de se deslocar até as unidades de saúde que realizam este serviço’, lamentou Ninarosa. (O Liberal)




