Qual posicionamento esperar da Polícia Militar diante do fato de o cabo Jeferson Lobato Santos, do Regimento de Policiamento Montado, ser acusado de ter agredido Renata Modesto Ferreira, de 23 anos, com um soco no rosto e depois lhe balear pelas costas, na noite da última sexta-feira, no bairro do Bengui, em Belém?
Como procedimento de praxe, o comando da Polícia divulgou quais os desdobramentos o caso irá tomar, pelo menos, no âmbito militar. A exemplo de outros episódios similares, o cabo Jeferson Santos foi, temporariamente, afastado do serviço que normalmente exercia no Regimento de Policiamento Montado e, por enquanto, desempenha atividades internas, sob o acompanhamento de uma assistente social.
Além dessa medida, o coronel Dário Teixeira, comandante-geral da Polícia Militar, anunciou ontem que um processo administrativo seria instaurado, bem como três oficiais seriam nomeados para compor o Conselho de Disciplina gerido pela Corregedoria da PM, que se encarregará de apurar a denúncia.
Durante a entrevista concedida no Comando Geral da PM, o coronel Dário Teixeira ressaltou que, caso as investigações da PM apontem a culpabilidade do cabo Jeferson, ele estará passível de punição de cunho militar.
Segundo o coronel, após o resultado da apuração, prevista para 30 dias e com possibilidade de prorrogação de mais 20 dias, compete ao Comando Geral decidir sobre a exclusão ou não do cabo Jeferson da corporação. “Com certeza, o comando não será conivente com conduta de abuso de poder”, garantiu o coronel Dário Teixeira.
Com relação à arma que o cabo Jeferson teria utilizado para efetuar os disparos contra Renata, o coronel informou que também será apurado se o policial portava o revólver irregularmente, já que ele alega que a arma lhe foi roubada.
“Caso o policial não apresente a arma, entenderemos que ela estava irregular”, comentou. O cabo Jeferson Lobato Santos está na Polícia Militar há 19 anos.
Se Lobato fosse pego com arma usada no crime, ele poderia ser preso em flagrante por porte ilegal de arma.
De acordo com quatro testemunhas, o cabo Jeferson efetuou três disparos contra Renata, sendo que um atingiu as costas dela, em frente ao Corpo de Bombeiros do bairro do Bengui. Antes disso, ele teria desferido um soco no rosto dela, que lhe quebrou os dentes, machucou a boca e o nariz. Conforme as testemunhas, o fato ocorreu na noite da última sexta-feira, minutos após Renata ter saído da padaria “Ebenezer”, localizada na rodovia Transmangueirão. Renata saiu do local discutindo com o policial, que estaria embriagado.
Depois de intensa discussão, o cabo Jeferson deu um soco no rosto da vítima e mandou ela correr. Quando ela virou de costas, o policial atirou três vezes.
Renata foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros e encaminhada para o Hospital Metropolitano de Urgência Emergência, em Ananindeua. Uma bala ficou alojada na coluna dorsal, por isso ela foi submetida uma cirurgia para a retirada do projétil.
Além disso, Renata passará por outra cirurgia, a fim de corrigir deformações decorrentes das agressões sofridas no rosto.
Por enquanto, Renata não consegue mover as pernas, mas segundo a assessoria de imprensa do Hospital Metropolitano, há possibilidade dela ficar paraplégica, assim como voltar a andar.
Cabo Jeferson
Na manhã do último sábado, o cabo apresentou-se na Seccional da Marambaia, onde caso foi registrado e alegou que efetuou os disparos porque Renata roubou-lhe um relógio. Primeiramente, o policial foi indiciado por lesão corporal grave, a qual responderia em liberdade.
Contudo, agora que apurado, o crime poderá configurar como tentativa de homicídio. Independente da punição que o cabo Jeferson está respondendo na Justiça Militar e na Justiça Comum, uma vez que o caso foi registrado na Polícia Civil.
Em estado de paraplegia. Joelhos e olhos machucados, boca inchada e dentes quebrados. Esta é a difícil situação enfrentada pela jovem Renata Modesto Ferreira, 23 anos. Ela ainda está internada no Hospital Metropolitano, após ter sido baleada pelo cabo Jeferson Lobato Santos, da Polícia Militar. O crime aconteceu na sexta-feira passada, na rodovia Transmangueirão, em Belém. Segundo pelo menos sete testemunhas, o cabo teria tentado assediar a garota.
“Eu não sei se ainda poderei andar, mas agradeço a Deus por estar viva e poder estar com minha família e amigos. Agora eu sei o quanto todos gostam de mim”, disse Renata.
Mesmo com a difícil situação, a jovem não perde a esperança de voltar a andar. Mas, tudo dependerá do trabalho de fisioterapia a qual ela será submetida.
“Ela sempre foi muito alegre, só vivia sorrindo e agora está nessa situação. É muito difícil”, disse uma amiga de Renata, que a acompanha no hospital, desde os primeiros dias do drama.
A amiga preferiu não ser identificada com medo de represálias do policial e de colegas dele. É ela quem tem acompanhado a garota, já que o pai, que é policial, mora no município de Curuçá, no nordeste do Pará, e a mãe já é falecida.
Segundo a senhora, ainda no sábado, um dia depois do crime, o próprio cabo Jeferson Lobato, provavelmente antes de se entregar, foi até o Hospital Metropolitano com amigos para saber da saúde da vítima.
“A gente estava lá na frente, quando dois homens chegaram e perguntaram se nós éramos parentes da moça que havia sido baleada pelo policial. Quando dissemos que sim, ele perguntou qual era o estado de saúde dela e nós dissemos que ela não corria risco de morte. No mesmo dia, quando estávamos vendo televisão, vimos que o homem que esteve aqui era o cabo Jeferson. A gente fica com medo que ele queira fazer mal a ela”, contou a senhora.
Renata é filha de policial e garante que tomará providências. “Isso não vai ficar assim”, disse a jovem, com muita dificuldade. Hoje, Renata passará por uma nova cirurgia para corrigir as fraturas na face.
19 anos
O cabo Jeferson Lobato Santos está há 19 anos na Polícia Militar. Atualmente, ele está lotado no Regimento de Policiamento Montado, conhecido também como Cavalaria. Anteriormente, o policial teve uma passagem pelo Batalhão de Choque.




