Ao lado de obras que impulsionam a economia de forma direta e imediata, como as eclusas de Tucuruí e os distritos industriais, o governo do Pará adota medidas de médio e longo prazos, como os investimentos recordes em ciência e tecnologia: esta é a base do novo modelo de desenvolvimento que induzimos’, afirmou a governadora Ana Júlia Carepa a uma platéia de mais de 50 empresários, na noite de sábado passado, no hotel Privê, em Salinas, em palestra que encerrou o Terceiro Encontro da Indústria, realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa).
Ana Júlia descatou que tentativas estratégicas anteriores de desenvolver a Amazônia, como à época do regime militar, falharam por não considerar o espaço enquanto elemento de desenvolvimento e com políticas aliadas ao aumento do capital humano e do capital social. ‘O resultado são enormes passivos, herdados por nosso governo, em áreas essenciais como saneamento, ciência e tecnologia, meio ambiente, regularização fundiária e a ausência de uma efetiva política industrial’.
‘De certa forma, nosso modelo de desenvolvimento é uma forma de enfrentar e solucionar esses passivos: para dar certo na economia, precisa antes dar certo no meio ambiente, na educação’, ponderou Ana Júlia.
A governadora disse que a meta do governo do Estado é crescer acima da média nacional, única forma de se reduzirem as diferenças sociais e econômicas entre a Amazônia e outras regiões mais desenvolvidas. ‘A meta era crescer 25% do PIB paraense, mas a crise internacional frustrou os nossos planos. Vamos crescer 1% em 2009 e 6% em 2010. Significa um crescimento total de 17% em quatro anos, o que é muito em tempos de crise’.
A governadora informou que o governo do Estado investiu e captou recursos recordes para a chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que são investimentos em saneamento, industriais, habitação e infraestrutura, entre outros segmentos.
‘A indústria mineral vai mobilizar, entre 2007 e 2010, recursos de R$ 52,7 bilhões; lutamos para que, pelo menos, R$ 16 bilhões fiquem no Pará.’ Da mesma forma, afirmou a governadora, o Pará lutou e teve êxito em garantir parte substancial dos recursos previstos na indústria siderúrgica, energia e infraestrutura social e urbana.
‘Ainda como governadora eleita, me reuni com o presidente Lula e com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e ressaltei a importância de garantir, no PAC, obras como as eclusas de Tucuruí, a hidrovia do Tocantins, a ampliação do porto de Vila-do-Conde e o asfaltamento de trechos da Transamazônica e da BR-163. Todas essas obras foram garantidas.’
A governadora disse ainda que o Estado fez importantes inversões de orçamentos, e assim pôde, com recursos próprios e captações, investir R$ 400 milhões só nas rodovias estaduais, com obras em todas as principais estradas.
‘De que adianta crescimento econômico sem desenvolvimento social?’, indagou a governadora. ‘Foi por desconsiderar essa integração que outras políticas falharam, e por isso nosso modelo investe fortemente em educação, habitação, saneamento. É essencial que a população tenha mais acesso aos bens e serviços, inclusive imateriais, como a cultura’.
Ana Júlia Carepa destacou que a produção e difusão de conhecimento é parte central do novo modelo de desenvolvimento, ‘forma de aplicar o conhecimento sistematizado em termos mundiais à realidade local de nossa economia’.
Capital
Para a governadora, a ampliação do capital humano promovida pelo Estado busca ampliar as habilidades em manusear novas tecnologias, em todos os níveis. ‘Por isso conseguimos a universidade Federal do oeste do Pará, temos projeto em análise para criar a do sudeste, fortalecemos a Universidade do Estado do Pará e atuamos em três eixos quanto ao ensino médio: a recuperação física das unidades escolares, a implantação de um novo currículo e a requalificação dos professores’.
Quanto à ampliação do capital social, Ana Júlia Carepa destacou que passa pela criação de instituições que reflitam o acúmulo das experiências coletivas de um grupamento social. ‘Um exemplo foi o Planejamento Territorial Participativo, que mobilizou dezenas de milhares de cidadãos de todos os municípios, que contribuíram com suas demandas para um melhor planejamento e destinação dos recursos do Estado’.
A governadora destacou os esforços do governo na regularização fundiária e gestão ambiental, e na questão da agricultura familiar e do agronegócio. ‘Dos 120 mil produtores de gado, mais de 90 mil têm até 200 cabeças: são, portanto, pequenos e médios criadores, todos beneficiados por nossa política de melhorias genéticas’.
Ana Júlia Carepa informou ainda, durante a palestra, que os esforços do governo do Estado se reúnem em torno da edificação do Sistema Paraense de Inovação Sipi), união de governo, empresários e cientistas em torno da inovação de produtos e processos produtivos e também da solução a gargalos tecnológicos da economia paraense.
Empresários paraenses cobram isenção para maior competitividade
O terceiro Encontro Estadual da Indústria, promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), apresentou os grandes investimentos previstos ao Pará e, entre outros pontos, destacou a necessidade de políticas que tragam competitividade à produção paraense. ‘Nos últimos anos, o governo federal insentou o pagamento do ICMS para as áreas de livre comércio e a Zona Franca de Manaus. Todos os nossos vizinhos aqui do Norte contam com políticas que lhe assegurem maior competitividade, o que não é o caso do Pará. Não queremos nenhum benefício, buscamos a igualdade para poder competir no mesmo patamar’, declarou o presidente da FIEPA, José Conrado Santos.
Durante o encontro, o ex-governador Simão Jatene criticou a postura dos atuais governos, os quais, segundo ele, não desenvolveram uma estratégia para o desenvolvimento da Amazônia. ‘O único momento da história que tivemos uma estratégia para esta região foi durante o governo militar. Foi ineficiente, isso é inegável, mas era aquilo que tínhamos de disponível. Até então, nenhuma outra estratégia foi desenvolvida para a Amazônia’, afirmou Jatene.
‘Pela ausência de uma estratégia consolidada, estamos sendo empurrados para uma armadilha, que seria a de produzir sem preservar ou então, preservar sem produzir’, conta o ex-governador. Para ele, a saída seria estabelecer um pacto entre todos os entes da sociedade para implementar um programa de desenvolvimento centrado em três vetores de transformação (o conhecimento, a produção sustentável e as novas formas de governança). ‘Nosso passivo deve ser transformado em ativo. Nossos governantes precisam entender que o não uso de um recurso natural deve ser entendido também como uma forma de uso, e como tal, com preço a ser remunerado’, explica.
Mineração
Sobre os investimentos da Vale no Pará, o coordenador executivo da mineradora, Evandro Rolim, apresentou os projetos de níquel, o Onça Puma, e o de extração do cobre no município de Marabá, o Salobo I. O primeiro, que deverá operar em setembro de 2010, será responsável pela produção de 58 mil toneladas de níquel por ano, e empregará durante sua fase de instalação cerca de 3.500 trabalhadores. O investimento previsto para o projeto Onça Puma é de R$ 4.59 bilhões.
Já o projeto de extração de cobre, que está prevista para iniciar em 2011, injetará na economia paraense um investimento de R$ 3.27 bilhões, e terá a capacidade de produzir cerca de 270 mil toneladas por ano de concentrado de cobre.




