Referência no tratamento a pacientes com câncer no Pará, o Hospital Ophir Loyola (HOL) também remete a filas para se conseguir a tão sonhada ficha para consulta. Não há prioridade no atendimento a crianças e idosos, segundo constatou a reportagem na última sexta-feira. Os pacientes acabam passando a madrugada em frente ao hospital para tentar uma vaga.
“São dois meses tentando marcar meu ultrassom de hérnia. Ela está inchada. Se não tiver vaga, eu desisto. Não venho mais. Se tiver que vir ou não, morre do mesmo jeito, porque fica esperando”, reclama a artesã Claudilene Cardoso,
32 anos.
Enquanto uns se amontoavam dentro da sala de atendimento do hospital, Claudiene aguardava na fila do lado de fora. Não havia espaço suficiente para a quantidade de pessoas que precisam pegar fichas.
Na sexta-feira, houve registro de tumulto no local. Os pacientes reclamavam da desorganização e falta de orientação por parte dos funcionários. “Entra governo e sai governo e continua tudo a mesma coisa. Eu já dormi em cima dessa fossa de gordura aqui na frente. Isso já aconteceu comigo várias vezes. Já é a segunda vez que venho aqui e não consigo ficha para atender meu filho”, conta a técnica em enfermagem Dora Correa, 69 anos.
O filho é renal crônico e precisa fazer diálise todo mês. Para tentar uma consulta, a idosa chega antes das 5h da manhã e dorme na fila. “Eu faço isso devido à necessidade. Ele não pode vir pra fila. Ele tem uma carteirinha que diz que não pode ficar em fila. Mas aqui isso não importa”, diz.
DEMORA
O pedreiro Sérgio Pereira, 65 anos, é cardíaco e necessita com urgência fazer uma operação de hérnia. O senhor relata que deveria ter sido operado em abril deste ano. Porém, até agora não conseguiu marcar os exames necessários para avaliação do médico, antes de entrar na sala cirúrgica. “Era para eu ter feito em abril uma operação de hérnia. Só que não me chamaram para fazer. Eu já operei do coração e vim marcar o ultrassom. Preciso passar pelos exames tudo de novo para poder remarcar a operação.”
DOMICÍLIO
Do município de Abaetetuba, a técnica em enfermagem Juliene Santos dos Santos, 36 anos, vem pelo menos cinco vezes ao mês para a consulta da filha de 10 anos. A criança tem fissura labial/palatina, que é a separação dos lábios superiores em duas partes. Ambas chegam antes de amanhecer em Belém e aguardam até as 11h30 para serem atendidas pelo
médico.
Além da cansativa demora, Juliane precisa tirar dinheiro do próprio bolso para bancar o transporte e alimentação até o retorno para casa. A cada viagem, ela gasta no mínimo R$ 100. “O Tratamento Fora de Domicílio não funciona corretamente na hora de ceder as passagens. Nem sempre as passagens estão disponíveis pela secretaria de saúde. Eu vou e compro, depois apresento a nota. Eles reembolsam, mas com um valor inferior ao que eu paguei pelas passagens”, relata.
O Ophir Loyola não havia se manifestado até o fechamento desta edição.
(Diário do Pará)




