Logo ao amanhecer, Valdelino Santana, 60 anos, pegou a estrada com mais 15 amigos, saindo do município de Eldorado do Carajás em direção a Marabá, percorrendo 70 quilômetros. O motivo era nobre: ajudar pessoas que precisam de sangue. A coleta foi feita no Hospital Regional do Sudeste do Pará – Dr. Geraldo Veloso (HRSP), na última terça-feira (17). O hospital realiza uma campanha de incentivo à doação de sangue até a próxima sexta-feira (20), com o apoio da Fundação Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará (Hemopa), em Marabá.
“Eu me sinto bem em fazer isso, não só pela pessoa que vai receber a doação, mas por mim mesmo, porque é uma ação importante. Não precisa ter medo de nada. Quem tiver vontade de doar, pode vir, que é ótimo”, afirmou Valdelino Santana, que trabalha como autônomo.
Como ele, outras 78 pessoas compareceram ao posto de coleta montado no ambulatório do Hospital Regional de Marabá. Entre elas, o servente Marcos Sousa, 23 anos, que aproveitou o intervalo do trabalho na obra de ampliação e reforma do hospital e passou na sala de coleta, para fazer sua primeira doação de sangue. “Fiquei sabendo (da campanha) por um amigo. Fiquei com medo, mas vim mesmo assim. Decidi doar para ajudar o pessoal que precisa, e já chamei os colegas da obra. Vamos aproveitar que estamos aqui e doar. Daqui para frente, vou continuar doando”, afirmou Marcos Sousa.
Segundo o coordenador da Agência Transfusional do HRSP, Gustavo Ramos, a doação é indolor e não causa nenhum prejuízo à saúde do voluntário. “Muitas pessoas deixam de doar porque pensam que doação vicia e afina ou engrossa o sangue. Isso não é verdade. Em pouco tempo, o corpo repõe a quantidade de sangue doado. O gesto faz um grande bem ao próximo. É possível salvar até sete vidas com uma única doação”, afirmou o biomédico Gustavo Ramos.
“Se sentir útil”
A colaboradora Flávia Fernandes é voluntária há 13 anos. Ela contou que cresceu vendo a mãe participar de campanhas de doação, e aos 18 anos decidiu seguir o mesmo exemplo. Hoje, ela incentiva amigos e, sempre que pode, acompanha a doação para que eles se sintam mais encorajados. De acordo com ela, doar sangue é uma forma de se sentir útil.
Esse senso de responsabilidade social tornou a enfermeira Michele Trindade uma doadora desde o final de 2016. Na terça-feira, ela doou sangue pela quarta vez. “É uma experiência única, porque temos a chance de poder ajudar pessoas que precisam. Agora que estou atuando em um hospital penso mais ainda nisso, porque quando a gente vivencia, percebe mais a realidade. O número de cirurgias realizadas pela unidade é grande, e muita gente precisa”, afirmou a enfermeira.
A técnica de laboratório Anete Fernandes conhece bem essa necessidade. Ela atua na Agência Transfusional, e desde a primeira campanha do Hospital Regional de Marabá ajuda nas coletas. “Eu doava antes, mas hoje não posso porque tive hepatite depois de adulta. Minha parte eu faço: trago doadores e coleto as bolsas. A gente só sabe o tamanho da necessidade quando precisa. Daí, quando você vê um paciente com tipo raro de sangue e que não tem no estoque, a família toda sente na pele a dificuldade. Se a gente parar para analisar, quantas pessoas não estão nessa aflição? Quantas pessoas têm saúde, mas não doam por causa do medo da furada ou dizem que não têm tempo. E é tão pouco o tempo gasto para doar. No máximo, em 10 minutos ela já fez a doação”, disse Anete Fernandes.
Demanda
Atualmente, o Hospital Regional de Marabá é a unidade que mais demanda o hemocentro regional, especialmente por seu perfil de atendimento de média e alta complexidade, e pela quantidade de cirurgias realizadas. Em 2017, a instituição registrou 2.123 transfusões, o que corresponde a uma média mensal de 176 procedimentos.
Diante dessa demanda, a Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar, gestora do HRSP, sob um contrato com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), há mais de 10 anos realiza campanhas periódicas de doação de sangue, mobilizando funcionários, usuários e a comunidade do entorno.
Nesta campanha, os grupos que participam do Programa de Voluntariado da instituição também ajudaram a mobilizar pessoas dentro e fora da unidade. Ao longo do dia, em vários horários, eles incentivaram a ida à sala de coleta e, ao final, doaram também, como exemplo de solidariedade.
De acordo com o diretor-geral do Hospital Regional, Valdemir Girato, com a campanha a Pró-Saúde também contribui para a melhoria da qualidade de vida dos moradores da região. “Sangue é vida, e a doação demonstra amor pelo próximo. Hoje, a vida de muitas pessoas depende desse ato de solidariedade. Imagine o quanto nos faz bem saber que ajudamos a salvar alguém com uma simples doação”, ressaltou o gestor.
Como participar
Os interessados em participar da 33ª Campanha de Doação de Sangue do Hospital Regional de Marabá devem procurar o Hemocentro de Marabá até a próxima sexta-feira. É preciso apresentar documento oficial de identificação, como carteira de trabalho, de habilitação ou de identidade. Podem doar sangue pessoas com idade entre 16 e 69 anos, com peso mínimo de 50 quilos e que estejam bem de saúde. Menores de 18 anos devem ser autorizados pelos pais ou responsáveis legais.
O Hemocentro de Marabá funciona de segunda a sexta-feira, das 7 às 13 h, na Rodovia Transamazônica, s/n, no Bairro Amapá, Núcleo Cidade Nova, próximo à Câmara Municipal de Marabá. (Aretha Fernandes)




