Um levantamento apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (PT) trouxe novamente ao centro do debate a forma como os recursos da Lei Rouanet vêm sendo distribuídos no país. De acordo com os dados divulgados, artistas do sertanejo concentram cerca de R$ 334 milhões em valores autorizados e captados por meio do principal mecanismo federal de incentivo à cultura. O número chama atenção não apenas pelo volume, mas pelo perfil dos beneficiários: nomes consagrados, com forte presença no mercado, grande alcance comercial e alta capacidade de geração de receita própria.
No topo do ranking aparecem artistas como Gusttavo Lima (R$ 52 milhões), Bruno e Marrone (R$ 45 milhões) e Leonardo (R$ 42 milhões), seguidos por Xitãozinho e Xororó, César Menotti e Fabiano, Zezé Di Camargo e Luciano, entre outros. A lista levanta questionamentos sobre o espírito original da Lei Rouanet, criada para estimular a diversidade cultural, apoiar projetos com menor apelo comercial e democratizar o acesso aos recursos. Afinal, faz sentido que artistas capazes de lotar arenas, negociar cachês milionários e contar com patrocínios privados robustos recorram a incentivos fiscais bancados, indiretamente, pelo contribuinte?
Embora o uso da Lei Rouanet seja legal e siga critérios técnicos de aprovação, críticos apontam uma distorção estrutural no modelo. O mecanismo permite que empresas escolham quais projetos patrocinar, o que tende a favorecer artistas já consolidados e com maior visibilidade de marca, em detrimento de produtores culturais independentes, iniciativas regionais e manifestações artísticas menos comerciais. Nesse cenário, a concentração de recursos no sertanejo não é apenas uma escolha artística, mas também econômica, guiada por retorno de imagem e segurança de público.
O debate, portanto, vai além de nomes ou gêneros musicais. Ele expõe uma pergunta central: a política de incentivo cultural está cumprindo seu papel de fomentar pluralidade e inclusão ou apenas reforçando desigualdades dentro do próprio setor cultural? Ao trazer esses números à tona, o levantamento reacende a necessidade de discutir ajustes no modelo, maior equilíbrio regional e critérios que priorizem projetos com real necessidade de fomento público — um debate que, inevitavelmente, coloca artistas, patrocinadores e o Estado sob o mesmo escrutínio.
Lista completa dos artistas que mais utilizaram a Lei Rouanet
Gusttavo Lima – R$ 52 milhões
Bruno e Marrone – R$ 45 milhões
Leonardo – R$ 42 milhões
Xitãozinho e Xororó – R$ 38 milhões
Cesar Menotti e Fabiano – R$ 35 milhões
Zezé Di Camargo e Luciano – R$ 32 milhões
Eduardo Costa – R$ 28 milhões
Amado Batista – R$ 23 milhões
Henrique e Juliano – R$ 20 milhões
Fernando e Sorocaba – R$ 19 milhões




