O Jornal da Record teve acesso, com exclusividade, a um documento do Ministério da Justiça que indicaria, conforme a emissora, um possível envolvimento do governador do Tocantins, Siqueira Campos (PSDB), com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso na Operação Monte Carlo.
Conforme o jornal da TV Record, exibido na noite dessa segunda-feira, 16, o nome de Siqueira surgiu também em escutas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal, e indicariam que o bicheiro teve um encontro com o governador do Tocantins.
O documento do Ministério da Justiça, a que a TV Record teve acesso, transcreve um diálogo entre Carlinhos Cachoeira e Gleyber Ferreira Cruz, um dos sócios do bicheiro flagrado na Operação Monte Carlo e que também está preso.
Na conversa, Cachoeira diz que tem um encontro marcado com o governador Siquera Campos, e que essa era a hora de tratar dos assuntos envolvendo Deuselino Valadares, que na época era chefe da Polícia Federal de Goiânia.
Em nota, a Assessoria de Imprensa do governador Siqueira Campos disse que ele foi apresentado a Cachoeira, pelo suplente de senador e então vizinho do bicheiro, Ataídes Oliveira. Segundo o governador, ele esteve em Goiânia para uma visita a Ataídes e foi apresentado “a este cidadão” [Cachoeira], “quando tiveram um contato rápido”. “Este foi o único contato entre os dois”, garante a nota.
A campanha eleitoral de Siqueira Campos, em 2010, recebeu R$ 500 mil da empreiteira JM Terraplenagem e Construção, ligada ao grupo de Cachoeira. Essa doação veio a público com a divulgação de conversas telefônicas pela revista Época, há 15 dias e foi admitida pelo secretário estadual de Relações Institucionais, Eduardo Siqueira Campos. Segundo ele, a doação foi depositada em Goiânia no dia 27 de outubro de 2010, portanto, alguns dias antes das eleições daquele ano.
Nas gravações interceptadas pela Polícia Federal, Cachoeira e o diretor afastado da Delta, Cláudio Abreu, avaliam as relações com Eduardo e com o ex-governador Marcelo Miranda (PMDB). O bicheiro cobra do ex-diretor da Delta a devolução dos R$ 500 mil doados à campanha de Siqueira através da JM Terraplenagem e Construção, mas desiste ao supostamente se lembrar de que ficaria com os serviços de inspeção veicular do Detran: “Agora vai pagar com aquele trem lá… Tá bom!”.
O bicheiro diz em seguida: “Computa pro cê aqueles 500 mil, lá… Não quero nem ver aquele Eduardo [que seria Eduado Siqueira Campos]”.
Abreu defendeu o secretário: “Não, vai ver sim. Pára com isso, cara! Vai dar certo. O Eduardo também é bom, oh, Carlinhos. Não pode falar mal dele, não. Um cara bom, bicho! Pra você ver… Ele não mandou dar aquele negócio para nós lá? A inspeção veicular? Para você ver… Só isso aí, cara, essa inspeção veicular do Tocantins já mata”.
O secretário Eduardo Siqueira Campos, porém, ressaltou que não tem nenhuma participação na empresa doadora e assegurou que ela não tem qualquer contrato com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), responsável pelo serviço de inspeção veicular.
Depois da campanha
A campanha do governador Siqueira Campos recebeu mais R$ 3 milhões do empresário Rossine Aires Guimarães, 48 anos, apontado nas investigações da operação Monte Carlo como uma espécie de sócio de Cachoeira. Rossine ainda doou R$ 500 mil para a campanha do ex-governador Carlos Gaguim (PMDB).
O empresário é proprietário da Construtora Rio Tocantins (CRT), que também tem o nome de Construtora Vale do Lontra, que recebeu do governo do Tocantins R$ 234.444.617,62, nas últimas três gestões – a gestão do ex-governador Marcelo Miranda, em 21 meses, desembolsou R$ 74,7 milhões; em apenas 15 meses de administração, Gaguim superou os outros dois governantes e pagou ao suposto sócio de Cachoeira R$ 140,6 milhões; e, em 2011, o governo de Siqueira Campos pagou R$ 19,1 milhões.
Empresa totalmente envolvida em supostos esquemas de Cachoeira, a Delta também foi beneficiada no governo Siqueira Campos pela portaria que decretou emergência nas rodovias estaduais e, assim, foi contratada sem licitação para recuperação das estradas do Tocantins. A Delta ficou com um contrato de R$ 14.695.596,17 para obras em Paraíso. O MPE ingressou com uma Ação Civil Pública contra a portaria no dia 3 de agosto do ano passado.
O promotor Adriano Neves defendeu na ação que a má conservação das estradas, “por descaso do poder público”, não é justificativa para a contratação de empresas sem a devida licitação, ainda mais porque elas seriam, segundo relatórios de prestação de contas fornecidos pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), doadoras de recursos para a campanha de Siqueira Campos em 2010.
A Delta ainda é uma das empresas que se propuseram a doar recursos para o que o governo chamou de um ambicioso projeto de modernização da gestão pública estadual, junto com outras, também em sua maioria, doadoras da campanha do governador. O projeto, anunciado em julho do ano passado, estava orçado em R$ 2,7 milhões.
Tocantins na rota do bando
Conforme o site do jornal O Estado de S.Paulo divulgou nesta segunda-feira, o Tocantins é um dos Estados onde empresas ligadas a Cachoeira atuavam, num esquema que movimentou pelo menos R$ 400 milhões nos últimos seis anos. Entre os supostos crimes que seriam praticados pelo bando, conforme investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF), estariam contrabando, exploração de jogos de azar, corrupção e lavagem de dinheiro.
Conforme O Estadão, o organograma feito pela polícia aponta que Cachoeira e outras oito pessoas do seu círculo íntimo de parentes e amigos expandiram a estrutura do grupo para além de Goiás e do entorno do Distrito Federal, onde concentraram a atuação. A maior parte das companhias ativas (30) opera em Goiás e no Distrito Federal, mas o grupo também mantém empresas em São Paulo (2), Paraná (2), Rio de Janeiro (1), Minas Gerais (1) e Tocantins (1). O grupo também já teve operações em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. (Portal CT)





