
Belém viveu neste domingo (12) um dos momentos mais marcantes de sua história recente. A 233ª edição do Círio de Nossa Senhora de Nazaré reuniu cerca de 2,5 milhões de pessoas nas ruas da capital paraense em uma celebração de fé, emoção e identidade cultural. Reconhecida pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, a maior procissão católica do Brasil percorreu 3,6 quilômetros, ligando a Catedral da Sé à Praça Santuário, em um trajeto que uniu orações, promessas e lágrimas de gratidão.
Desde as primeiras horas da manhã, a cidade se transformou em um mar de fé. O cortejo da imagem peregrina da santa foi acompanhado pela tradicional corda, símbolo de devoção, enquanto multidões entoavam cânticos e erguiam as mãos em sinal de reverência. Entre os fiéis, histórias de fé se multiplicaram: a bailarina Giovana Nogueira dançou todo o percurso em agradecimento por uma graça alcançada, e Benedita Nogueira levou ex-votos representando curas em sua família. Esses gestos individuais, somados a milhares de outros, compõem o mosaico humano que torna o Círio uma das maiores expressões religiosas do mundo.
O espírito solidário também marcou a procissão. Sob o calor intenso, fiéis distribuíram água, toalhas e alimentos aos romeiros. Sadia Maria Souza Lobato, de 68 anos, cumpre há 15 anos a promessa de oferecer água após conquistar a casa própria, enquanto Vaneide Silva, de 58, entrega milhares de toalhas em sinal de gratidão. Para além da fé católica, o evento também simboliza convivência e respeito entre religiões. “O Círio é uma junção de povos católicos, evangélicos e afro-religiosos, unidos em emoção e respeito à santa”, destacou o paraense Andrei Fonseca, adepto de uma religião de matriz africana.
A grandiosidade da festa se estende por todo o mês de outubro, com romarias fluviais, rodoviárias e motorizadas que reforçam o elo entre fé e cultura no Pará. A Casa de Plácido, que acolhe milhares de romeiros com apoio de centenas de voluntários, representa o coração solidário do Círio. E enquanto a imagem de Nossa Senhora de Nazaré segue inspirando arte e devoção, a artista Aline Folha traduz o sentimento coletivo dos paraenses: “O Círio é mais do que uma procissão — é um estado de espírito que transforma a cidade e quem participa dela”.




