
O aumento no número de reclamações sobre o serviço de cirurgia cardíaca pediátrica em Araguaína reacendeu um debate que vai além da estrutura hospitalar e chega ao coração da gestão pública em saúde. A reunião promovida pelo Ministério Público do Tocantins (MPTO), no último dia 4, expôs fragilidades e contradições em um serviço que, embora represente um avanço para o estado — evitando a transferência de recém-nascidos para outros centros do país — ainda enfrenta sérias limitações.
O principal ponto de crítica envolve a disponibilidade da equipe médica. Os cirurgiões responsáveis pelas operações vivem em Minas Gerais e viajam ao Tocantins apenas uma vez por mês. Para o MPTO, essa prática compromete o acompanhamento pré e pós-operatório dos bebês, cuja condição clínica exige vigilância constante. A Secretaria de Saúde de Araguaína argumenta que a escassez nacional de especialistas justifica a contratação de equipes externas, e anunciou a incorporação de dois novos médicos. Mas surge a dúvida: reforçar a equipe sem ampliar a frequência das visitas resolverá o problema ou apenas maquiará uma deficiência estrutural que pode custar vidas?
Outro ponto levantado é a dificuldade de acesso aos prontuários médicos, que, segundo familiares, só seriam entregues presencialmente em Araguaína. O Instituto Isac, responsável pela gestão, negou irregularidades, mas acatou a recomendação do MPTO para adequar os procedimentos. Há ainda a questão da comunicação: familiares relatam falta de diálogo claro e humanizado sobre os riscos e consequências das cirurgias. Enquanto gestores e médicos destacam a qualidade da estrutura do hospital e o desafio clínico dos casos encaminhados, fica o questionamento: de que adianta ter tecnologia e serviços pioneiros no estado se o atendimento básico de informação, acolhimento e acompanhamento contínuo não é garantido?
Assim, o debate sobre a cirurgia cardíaca pediátrica em Araguaína escancara um dilema comum no sistema de saúde: entre conquistas pontuais e promessas de melhorias, persistem lacunas que afetam diretamente os pacientes mais frágeis. Cabe ao MPTO, gestores e sociedade civil não apenas aplaudir os avanços, mas também cobrar soluções concretas que transformem promessas em resultados palpáveis, garantindo não só o acesso, mas a qualidade e a dignidade no tratamento.




