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sábado, dezembro 6, 2025
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PARÁ: Breves sofre com falta de abastecimento de água

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De três em três dias, no Jardim Tropical, Celinalda pega um carro de mão e vai até o rio colher água para beber. No Riacho Doce, Elcy usa a água da chuva para lavar roupa. Em Santa Cruz, Edmilson põe Q-Boa na água do rio para consumo. Três situações que exemplificam a precariedade da distribuição de água no município de Breves, no Arquipélago do Marajó, cujo abastecimento se resume a duas horas pela manhã e duas horas no final da tarde apenas nos bairros mais centrais. A ausência de água no município já fez com que o prefeito José Antonio Azevedo Leão decretasse situação de emergência por 90 dias em Breves e impulsiona um advogado a entrar com uma ação civil contra a Cosanpa e o Estado.

Água-Tucupi

Praticamente não há água em Breves. E a que existe não é nem remotamente de boa qualidade. “Aqui a gente chama a água de ‘tucupi’ por causa da cor amarela”, diz o autônomo Edilson Fonseca Tenório. Uma garrafa com uma amostra dessa água amarelada é estocada na sala do atual gerente da Cosanpa em Breves, Ivomar Vaz, 46. É a prova que ele quer ter da mudança de qualidade do líquido no município a partir do momento em que assumiu o cargo. Vaz está há cerca de um mês na função. “Viemos para cá com o compromisso de mudar o sistema operacional e a qualidade da água. Saímos da estaca zero e chegamos a uma melhora em torno de uns 25%”, diz ele, apresentando uma garrafa com água colhida recentemente. Mais limpa. “Temos uma água de qualidade? Ainda não. Mas vamos mudar esse quadro”, garante.

Em Breves, a disponibilidade de água nas torneiras tem hora certa. Começa às seis da manhã e encerra às 8h30. Depois vem no final da tarde, geralmente às cinco e meia e vai até 20h30, quando os motores são desligados. Nem todos os bairros têm esse ‘privilégio’, no entanto. Bairros como Castanheira, Jardim Tropical, Santa Cruz, Riacho Doce, Cidade Nova II e Bandeirantes, por exemplo, não sabem o que é receber água potável – ou quase – nas torneiras.

Doenças

Cada morador faz o que pode para não ficar sem água. No bairro Jardim Tropical, Celinalda Glória de Lima, 27 anos, enche duas caixas d’água com água que vai buscar direto do rio, de três em três dias. “Eu tiro um dia para fazer isso. Quando chego em casa, ponho remédio. Também aparo água da chuva para beber”, diz ela. Nada disso impede que os três filhos pequenos sofram as consequências dessa insalubridade líquida. “Eles vivem com coceira, diarreia. Tem tempo que estão todos atacados. Vomitam muito. Eu acho que é a água”.

Celinalda não está longe da verdade. Em 2009, um relatório feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) assinado pela coordenadora de departamento Vânia Cavalcante, diz que o aparecimento de epidemias e de doenças emergentes na região tem forte contribuição da má qualidade da água. São as diarreias agudas, a febre tifoide, a leptospirose e as hepatites virais. Em 2005, houve um surto de febre tifoide naquela região do Marajó. Em 2008, o hospital municipal de Breves registrou 3.050 casos de doenças ligadas direta ou indiretamente às péssimas condições da água ingerida pelos moradores do município.

Essa situação fez com que no dia 15 de abril de 2010, o prefeito José Antonio Azevedo Leão decretasse situação de emergência pelo prazo de 90 dias. A intenção é resolver o problema. “O maior problema é a qualidade da água. Vamos implantar filtros novos. Sabemos que o teor de ferro da água aqui em Breves é muito alto. Há um projeto em andamento que vai minimizar esses problemas”, afirma o secretário de Obras de Breves, Bruno Rendeiro.

Projeto foi abandonado por empresa

Havia um projeto anterior para a recuperação do sistema de tratamento de água, de cerca de R$ 2 milhões. “Foi um projeto meio frustrante porque a empresa ganhadora da licitação não deu conta da obra e desistiu”, diz o secretário Bruno Rendeiro. A empresa era a L.F. Construções Ltda. “Ela só colocou a placa”, diz o advogado Hidalgo Apoena.

Apoena está prestes a entrar com uma ação ordinária na Justiça paraense contra a Cosanpa e o governo do Estado. O advogado já tem 89 processos prontos para serem encaminhados. Cada um corresponde a um morador de Breves. A ação inclui indenização por danos morais e a “obrigação de fazer” por parte do governo do Estado. “Os moradores sofrem transtornos todos os dias por não terem água. Têm que pedir aos vizinhos, têm de acordar de madrugada para ir buscar água andando 300 a 400 metros com baldes e caixas. A ação vai obrigar o Estado a normalizar o serviço sob pena de multa diária”, afirma Apoena.

“Realmente a dificuldade existe, mas o que ocorre é que a última obra de porte em Breves foi feita em 1985”, reconhece o presidente da Cosanpa, Eduardo Ribeiro. Segundo ele, já existe a previsão de investimento para a melhoria da água no município. “Serão R$ 120 mil em melhoria do tratamento de água, mais R$ 140 mil para a perfuração de poços e R$ 120 mil em reformas dos dois filtros existentes hoje”, diz.

Calhas nos telhados para colher preciosa água da chuva

No bairro Jardim Tropical, a família de Iranildo Cardoso da Silva, 42 anos, e Almira Gonçalves, precisou instalar uma calha no telhado para aproveitar a água da chuva. De um cano ela escorre para os baldes e latas. É essa água que a família irá beber.

No Riacho Doce, os oito filhos de Elcy Lima, 39 anos, também bebem água da chuva. Com a mesma água, ela lava a roupa da família. “No verão a gente tem de pegar no rio porque fica mais difícil aparar a água”, diz ela.

No bairro Santa Cruz, as famílias moram tendo ao fundo o igarapé de mesmo nome. Mas é no rio que fica bem mais distante que as famílias vão buscar a água para consumo. Edmilson Feitosa dos Santos vai de barquinho a motor, na companhia dos filhos. Volta com um tonel cheio de água amarelada. Em casa, adiciona hipoclorito e água sanitária Q-boa. E todos bebem. De vez em quando uma das crianças vai parar no posto médico com diarreia. No final do mês, religiosamente, recebe a conta de água da Cosanpa.

São R$ 14,00 mensais.

“Ninguém tem água aqui. O que nós estamos pedindo ao governo não é cesta básica, nem roupa. O que a gente pede é água para beber e remédio no posto de saúde. Só isso”, diz o carpinteiro antes de atravessar o igarapé e levar para casa o tonel de água, do rio. (Diário do Pará)

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