A taxa de fecundidade da mulher paraense caiu 19% na última década, saindo de 2,5 para 2,1 filhos por mãe. Em Belém, a taxa é ainda mais baixa: 1,7 filho por mulher, antes a taxa de 1,9 há dez anos – redução de 13%. É uma das médias mais baixas entre as capitais do Norte e Nordeste do País. O valor corresponde a 1.084.778 crianças nascidas vivas em Belém ao longo da última década pelas 634.255 mulheres de 10 anos ou mais.
A Região Metropolitana de Belém (RMB) reduziu a média de filhos em 19% entre os dois censos. O destaque foi Marituba (29,4%), caindo de 2,3 por mulher para 1,7.
O declínio mais acentuado ocorreu no interior do Estado. Em 2000, 60 municípios paraenses tinham a média de mais de três filhos por mulher. Dez anos depois, esse montante foi reduzido a três municípios: Magalhães Barata (3,2), Quatipuru (3) e São João da Ponta (3). Em Ulianópolis, Água Azul do Norte e São Félix do Xingu, a média é de 1,6 filho por mulher. Esses dados evidenciam uma mudança cultural. Atualmente, a presença feminina no mundo do trabalho é forte e, para investir na carreira e nos estudos, a maternidade ficou em segundo plano.
De acordo com o IBGE, o sexo feminino responde por 43% dos empregos de carteira assinada no Estado e por 58,1% dos que estão no nível escolar superior ou com nível superior completo. O professor Luís Eduardo Aragón Vaca, coordenador do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea) da Universidade Federal do Pará, destaca que essa queda é única no mundo. ‘Não há outro País que em tão pouco tempo tenha baixado de seis filhos por mulher para 1,89. Ela começa a partir da década de 1960, pronunciando-se na década de 70, até chegar hoje. Nos países de primeiro mundo, o processo durou quase dois séculos’, compara Aragon, ao ressaltar que, apesar da intensa redução, as taxas de fecundidade na região Norte ainda são as maiores do País.
É que o desenvolvimento econômico chegou tarde na Amazônia, por isso o atraso da liberalização da mulher. Segundo ele, com a modernização, as mulheres ganharam autonomia para as decisões de planejamento familiar e passaram a ter mais espaço no mercado de trabalho e maior acesso à educação. ‘A região Norte teve menos intensidade porque o processo de urbanização foi mais tardio. Mas a tendência é de que todas as regiões cheguem a números muito baixos de fecundidade para o ano do Censo 2010’, afirma Aragon.
Nos últimos dez anos, também caiu o número de óbitos de crianças menores de um ano nos municípios paraenses. O Censo 2010 diz que o Pará chegou a 18 mortes de bebês de até um ano de idade por mil nascidos, ante os 21 anteriores.
Medicina preventiva e curativa, saneamento básico, programas de saúde materna e infantil, valorização do salário mínimo e programas de transferência de renda influenciaram a queda. É possível analisar, proporcionalmente, onde está concentrada a maior quantidade de mortes de bebês no Pará. Santana do Araguaia, Sapucaia, Santa Cruz do Arari, Terra Alta e Inhangapi respondem pelas maiores porcentagens.
No período de pesquisa, entre junho de 2009 e agosto de 2010, esses municípios tiveram percentuais, respectivamente, de 11,3%, 9,6%, 9,1%, 9% e 7,6% de óbitos de crianças menores de 1 ano, no universo de todas as crianças nessa faixa-etária. Já Santarém, com uma morte de bebê, e Tailândia, com dois casos, aparecem no oposto do ranking. Belém teve 241 óbitos de bebês, proporcional a 1,2% dos 19.853 registros de nascidos no período.
Em Belém, queda da fecundidade foi acentuada
Belém é uma das capitais brasileiras onde é mais evidente a queda na taxa de fecundidade da população brasileira apontada pelo Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados na última semana. Até o ano 2000, Belém tinha uma taxa de 1,8 filho por mulher. Atualmente, esse índice está em 1,6 filho por mulher, queda de 12,5%. Na prática, isso significa que a família belenense está menor. Esse é o caso da família da fisioterapeuta Ercília Marques, 39 anos. Casada há 11 anos, ela teve uma única filha, a menina Beatriz, de 8 anos. ‘Durante um tempo até pensei em ter um outro filho, mas depois decidi que seria apenas ela’, conta.
Pesaram na escolha as dificuldades para se dividir entre educar a filha e se manter no mercado de trabalho. ‘A questão financeira é importante, mas dá para superar. O problema maior é o desgaste físico e emocional de conciliar a profissão e a educação de uma criança’, afirma. ‘Acho que o ideal hoje é ter apenas um filho’.
A única irmã de Ercília, a defensora pública Ana Paula Marques, 33 anos, está casada há três anos e sete meses e planeja ter apenas um filho, mas somente após os 35 anos. ‘Como ainda não tenho filho, penso muito nos gastos. Quero apenas um filho para poder proporcionar o melhor a ele. Mas antes disso ainda penso em viajar bastante’, diz.
A mãe das duas irmãs, Maria Dinair Marques, 65 anos, veio de uma família de 13 irmãos e sempre pensou em ter poucos filhos. ‘Queria só uma na verdade, porque eu e meu marido sempre trabalhamos muito e, apesar dele me ajudar bastante, era muito difícil, porque trabalhava pela manhã em um escritório e à tarde e à noite dava aulas. Às vezes, chegava em casa mais de meia-noite. Mas acabei tendo mais uma e depois não quis mais’, lembra.
A comerciante Ilza Bastos, 31 anos, é mãe de Sávio, de 8 anos, e não pensa em dar um irmão ao menino. ‘A questão financeira pesa. Ainda não tenho a minha casa. Além disso, estou fazendo faculdaséculos de e não tenho plano de ter outros filhos’, diz.
Outro fator determinante na escolha do filho único é a educação. ‘O tempo hoje para quem trabalha é muito corrido, o que torna a tarefa de educar ainda mais difícil’. Ela conta que há poucos meses o filho costumava pedir um irmão, mas se acostumou com a ideia de ser filho único. ‘Ele tem outros irmãos por parte do pai e acho que já se acostumou com isso’, diz.
Ilza Bastos, que tem apenas um irmão, ter somente um filho traz vantagens e desvantagens: ‘Podemos proporcionar mais coisas para um filho único, por outro lado, às vezes eles têm algumas dificuldades para dividir com o outro’. ( O Liberal)




