A tensão marcou a manhã desta segunda-feira (27) na cadeia pública denominada de Centro de Recuperação Marabá (CRM), que funciona entre a 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil e o IML (Instituto Médico Legal). Aproximadamente 70 internos fizeram refém o agente prisional Dione Soledade Albuquerque, de 24 anos, para que suas reivindicações fossem atendidas pela direção da casa penal. A rebelião teve início às 6h30 e só terminou pouco antes das 10 horas, quando os presos liberaram Dione e as câmeras de reportagem gravaram o agente prisional deixando a carceragem sem um único arranhão.
A chuva que caiu durante a noite de domingo (26) para segunda-feira foi o estopim para que os internos, que estão vivendo em uma área anteriormente reservada aos banhos de sol, exigissem mudanças imediatas. Devido à superlotação, que resulta na falta de celas para abrigar todo mundo, os 70 internos foram acomodados em uma área que não tem cobertura, ou seja, eles passam o dia e a noite expostos à luz do sol ou à chuva.
Ao amanhecer, o agente prisional Dione foi até a ‘cela’ dos presos para recolher a garrafa de café, com a intenção de servir o alimento da manhã, mas os presos, armados de estoques, o renderam, encarceraram e começaram a incendiar colchões. A direção do presídio acionou imediatamente o Grupo Tático Operacional (GTO) da Polícia Militar e o próprio comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar (BPM) esteve à frente das negociações e dos trabalhos da guarnição.
Exigências
O primeiro pedido feito pelos presos foi que os policiais não entrassem no prédio e exigiram a presença de um juiz para conversar com eles e da imprensa, para acompanhar as negociações. Os juízes Marcelo Andrei Simão, da 5ª Vara Criminal, e Emerson Carvalho, da 4ª Vara Criminal da Comarca de Marabá, foram ao CRM e dialogaram com os detentos, que detalharam a situação em que estavam vivendo.
Ao mesmo tempo, o Corpo de Bombeiros foi acionado para intervir nos incêndios que os internos causavam e também para estarem a postos, caso algum ferido precisasse ser urgentemente resgatado. O sargento BM Rogério Fernandes de Almeida esteve no local comandando as guarnições divididas em uma viatura de combate a incêndio e duas de resgate.
Depois de conversarem com os juízes, os presos solicitaram que os repórteres presentes realizassem imagens da cela improvisada onde estão vivendo. Do telhado, as lentes conseguiram captar o grande número de presos e também os problemas que eles enfrentam na carceragem. Mesmo com o fim da chuva algumas horas antes, o chão ainda estava bastante molhado. Além disso, havia lixo espalhado por todo lugar e até a presença de um bueiro aberto pode ser notada.
A principal preocupação dos manifestantes era mostrar que a integridade física do refém havia sido mantida. Dione estava em cima de um balde e tirou a camiseta para demonstrar que não possuía nenhum ferimento.
Enquanto toda essa história se desenrolava, a direção do presídio entrava em contato com o superintendente do Sistema Penitenciário do Estado do Pará (Susipe), tenente-coronel PM André Luiz de Almeida e Cunha. O diretor do CRM, George Hiroshy Acácio, informou que o superintendente disponibilizou os recursos necessários para que uma cobertura fosse construída no local. “Esta situação vem se arrastando ao longo do tempo e foi se agravando à medida que a população carcerária aumentou. O superintendente tomou conhecimento da situação e está disponibilizando recursos para que, a partir de hoje, nós possamos nos mobilizar para construir uma cobertura onde eles possam ficar livres dessa situação”, afirmou, acrescentando que ainda não há um prazo para que a obra comece.
Depois de terem todas as exigências atendidas, as câmeras de reportagem flagraram, às 9h47, o agente prisional deixando a carceragem após ser libertado, sem um único arranhão. Assim que a situação foi totalmente controlada, os policiais do GTO realizaram uma revista em todas as celas do CRM e detectaram três estoques, um cachimbo para uso de entorpecentes, três baterias de celular, um carregador e um aparelho de celular completamente destruído, provavelmente aquele que foi utilizado para que os presos mantivessem contato com o exterior durante a rebelião. (Luciana Marshall – Correio Tocantins)




