Quase toda semana, as feiras da Laranjeiras, Folha 28 e alguns bairros da cidade de Marabá, passam a ser palco de um fato curioso e que, de alguma forma, toca na sensibilidade das pessoas. Um carro de som anuncia que ali dentro está uma pessoa (geralmente mulher) com um sério problema de saúde e que precisa de sua ajuda financeira. “Qualquer quantia ajuda. ‘Quem doa aos homens, empresta a Deus”, diz a propaganda do carro volante.
Um dos pontos que os “propagandistas” também gostam de ficar durante a semana é em frente à agência do Banco do Brasil da Folha 32, Nova Marabá. Param o carro, não gastam dinheiro com combustível e ainda conseguem levantar uma boa colaboração, usando apenas uma gravação. Em geral, eles alegam que a pessoa que está dentro do carro tem uma doença grave, não tem condições financeiras de pagar pela cirurgia e que precisa da ajuda dos demais. Nos casos mais comuns, o problema é na coluna, porque aí, caso alguém peça para ver a verdadeira situação do doente, não há como dizer que o fato não é verdadeiro.
A reportagem acompanhou alguns desses casos e conversou com uma delas. Antônio Carlos, o motorista de um veículo Fiat Uno, transportava uma senhora que dizia ser sua esposa. Ao questionar a doença dela, alegou que era coluna. Mas a pergunta a ele veio de pronto: por que ela sofre da coluna e está assim, espremida dentro de um carro?
Antônio Carlos, que não quis revelar o nome da mãe, alegou que aquela era a única posição que a mulher conseguia ficar sem sentir muitas dores. “Ela chora a noite toda, a gente fica com o coração partido, sem conseguir ajudar”, diz, observando que resolveu sair pedindo dinheiro pelas ruas para poder conseguir R$ 12 mil para uma cirurgia em Teresina e aplacar o sofrimento da esposa.
Questionado quem fez o diagnóstico da doença e por que não procura ajuda do município, através do TFD (Tratamento Fora de Domicílio), Antônio Carlos mostrou um receituário médico, com letras ilegíveis e uma chapa de radiografia a qual o leigo não saberá identificar algum tipo de problema de saúde. “Fui várias vezes atrás do TFD, mas é uma fila muito grande e minha mulher não pode esperar”, argumentou.
A última pergunta feita ao condutor do Uno foi por que ele não vendia o carro para cuidar da saúde da esposa, e Antônio Carlos tinha uma resposta na ponta da língua: “não é meu, é emprestado”. Não dá para saber quão verdadeiras eram as respostas de Antônio Carlos e se havia apenas um cenário montado dentro do carro que ele dirigia para atrair incautos. Várias outras pessoas usam desse artifício para conseguir dinheiro para possível tratamento. Quem faz algum tipo de doação, geralmente, não faz investigação para saber a real situação do doente.
Na última semana, a reportagem encontrou com um outro veículo na Marabá Pioneira que transportava uma mulher, pedindo dinheiro para ajudar no tratamento de saúde dela. O fato chamou a atenção porque ela estava sentada no banco da frente, coberta por um lençol vermelho e, estranhamente, com uma máscara no rosto.
Quando viu a câmera fotográfica, a mulher fez uma expressão de choro, desespero, mas em seguida, quando apareceu uma pessoa depositando dinheiro na caixa que estava em seu colo, ela já estava normal.
O repórter anotou o número do telefone do condutor do veículo, de prefixo 91, mas posteriormente, quando tentou contato por várias vezes, o telefone dava na caixa postal. Não se pode afirmar que eles estavam simulando algum tipo de doença, ou não, mas parece estranho que alguém doente, que tenha problemas de respiração, como parecia, seja exposta em um veículo para arrecadar dinheiro pela cidade. (Ulisses Pompeu – Correio Tocantins)




