Um esquema milionário de desvio de recursos públicos teria sido comandado pelo governador afastado do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), entre 2020 e 2021, período em que ainda era vice-governador. A denúncia foi apresentada pelo programa Fantástico, da TV Globo, neste domingo, 5, e aponta o uso de empresas de fachada e contratos fraudulentos para simular a entrega de cestas básicas durante o período de emergência social e sanitária da pandemia. Segundo a Polícia Federal, cerca de R$ 73 milhões teriam sido desviados por meio de notas fiscais falsas e recibos duplicados, com a ajuda de operadores financeiros e de aliados próximos.
As investigações indicam que a primeira-dama, Karynne Sotero, teria sido uma das articuladoras do grupo, mantendo contato direto com o empresário Paulo César “PC” Lustosa, seu ex-marido, responsável por movimentar valores e intermediar contratos. Também são citados Wilton Rosa Pires e Maria “Bispa” Socorro Guimarães, apontados como captadores de propina e responsáveis por negociar vantagens indevidas em pagamentos do governo a fornecedores. Parte do dinheiro teria sido usada para financiar a construção de um resort em nome do filho do governador, Rérison Castro, considerado laranja no esquema. Em áudios interceptados pela PF, divulgados pela emissora, os envolvidos detalham as transações e a divisão dos valores desviados.
Durante as buscas realizadas em setembro, a Polícia Federal apreendeu R$ 52 mil na casa de Wanderlei e cerca de R$ 700 mil em espécie com outros investigados. O ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), determinou o afastamento de Wanderlei Barbosa por seis meses, dentro da segunda fase da Operação Fames-19, que apura fraudes em contratos de fornecimento de alimentos e frangos congelados. A decisão cita um “núcleo político” liderado por Wanderlei e Karynne, no topo de uma estrutura que incluía servidores públicos e empresários.
Em nota ao Fantástico, as defesas de Wanderlei e Karynne negaram as acusações, afirmando que o então vice-governador não tinha ingerência sobre os repasses e que o casal não mantém contato com os demais investigados desde 2017. As representações de Lustosa e Wilton Pires também rejeitaram as denúncias, alegando ausência de contratos com o Estado. A Bispa Socorro não se pronunciou. O caso marca mais um capítulo na crise política tocantinense: os três últimos governadores eleitos — Marcelo Miranda, Mauro Carlesse e Wanderlei Barbosa — foram afastados por denúncias de corrupção, ampliando a pressão por transparência e renovação na política local.





