
Entre junho e julho, a Prefeitura de Tocantinópolis autorizou a contratação de 19 shows musicais que somam um custo de R$ 2.083.000,00 aos cofres públicos. Os dados foram levantados pelo Jornal Opção. Os gastos, viabilizados por inexigibilidade de licitação, estão distribuídos entre os eventos da XX EXPOTOC, temporada de praias e as comemorações dos 167 anos da cidade. As informações constam no Portal da Transparência da Prefeitura e na plataforma oficial do Tribunal de Contas do Estado (TCE-TO), e têm chamado a atenção pela magnitude dos valores e ausência de concorrência pública.
O show mais caro é o da dupla Hugo & Guilherme, contratada por R$ 620 mil, com apresentação marcada para o dia 27 de julho no aniversário da cidade. A justificativa para a contratação direta é a “notória especialização”, prevista na Lei de Licitações. No entanto, o valor do cachê — um dos mais altos já pagos por uma prefeitura no interior tocantinense — abre margem para dúvidas: há razoabilidade e transparência suficientes para justificar tal investimento, sobretudo em um município com demandas sociais históricas não resolvidas?
Outros nomes como Flaguim Moral e a banda Moleca 100 Vergonha também aparecem com cachês robustos: R$ 250 mil cada. A lista inclui ainda artistas como Ricardo & Thiago, Suellen Lima, DJ Lelis e Teclinha dos Teclados, com valores que vão de R$ 10 mil a R$ 100 mil. Embora parte dos recursos seja oriunda de convênios estaduais, isso não isenta a necessidade de avaliação crítica sobre a alocação desses valores em um cenário de limitações orçamentárias, filas por atendimento de saúde, carência de infraestrutura básica e precariedade na educação pública.
A estratégia de investir pesado em festas populares pode ter apelo político e mobilizar setores econômicos como comércio e turismo. No entanto, o silêncio da gestão municipal diante de questionamentos sobre critérios de escolha dos artistas, ausência de edital público e impactos reais na economia local reforça a necessidade de maior fiscalização. Em tempos de escassez de recursos e crescente cobrança por transparência, o volume de dinheiro investido em entretenimento exige, mais do que aplausos, respostas concretas e justificativas plausíveis.