Estive em Araguatins nos dias 29 e 30 de setembro no ano de 2023 e, fiz uma análise ambiental apenas pelo que me foi possível observar “in loco” nesses dois dias, ver o rio ainda cheio em pleno verão, quando em outros tempos alcançava o seu nível máximo de vazante (setembro-outubro), ou leito de vazante, mas o rio ainda estava cheio. Em julho, período de férias deste ano de 2024 vi várias postagens na internet mostrando o rio ainda cheio, mas com a praia da Ponta, na sua totalidade, um pouco acima do nível das águas, propiciando banho em espaços rasos, mas o leito principal do rio deveria estar no nível de vazante.
Já existe sinais evidentes da perda da sua capacidade de vazão e a necessidade de um estudo técnico para efetivamente corrigir a vazão. A vazão de água de um rio é o volume que escoa em seu curso em determinado período (Verão) medida em metros cúbicos por segundo(m3/s). É fundamentalmente importante que a vazão seja monitorada e controlada para garantir o equilíbrio entre enchente e vazante, pois a baixa pressão da água não tem força para fazer descer ou baixar e diminuir o nível da água do leito maior que ainda retém muita água do período chuvoso.
Para analisar essa situação valho-me dos princípios geográficos da causalidade, analogia, conexão e extensão, para uma avaliação da redução das vazões, os danos ambientais e sociais.
São agentes causadores da baixa capacidade de vazão:
1-Degradação das margens por processo erosivo e pelo acúmulo de depósitos arenosos, argilosos e lodosos;
2-Onde existe marcas de desmatamento em alguns trechos do rio desprotege o solo e permite a rápida evaporação das águas pluviais (da chuva), impossibilitando a formação de fontes naturais que alimentam os rios. As margens sem vegetação ficam expostas a erosão e provocam a
queda de barrancos arenosos ou areno-argilosos, dando origem ao assoreamento pelo acúmulo de terra e outros detritos no leito do seu curso. Isso fará reduzir as vazões e nas enchentes causará sucessivos transbordamento, submergindo muitos outros espaços nas proximidades do rio.
3-Os sedimento acumulados no fundo do leito: acúmulo de pedras, rochas ( argila e areia) e até mesmo o lixo urbano e da população ribeirinha descartado de maneira errada. Todo esse material é carregado pela força das águas no período de enchente, para o fundo do vale, sujando o rio e diminuindo a oxigenação das suas águas e mudança na coloração (água mais barrenta e suja)
4-O rio Araguaia banha Araguatins pela margem direita e corresponde ao baixo curso onde o assoreamento produz muitos bancos de areia que diminuem a velocidade da vazão;
5-O acúmulo de sedimentos no fundo do leito na enchente altera o seu percurso e faz a água correr em outras direções para seguir o seu caminho, alagando ruas, casas, enchentes urbanas.
6-Precisamos levar em consideração o saneamento básico das cidades que estão no baixo curso do rio Araguaia, o despejo de resíduos fecais com elevado índice de coliforme fecal, pode causar contaminação bacteriológica e, consequentemente, proliferação de doenças.
A correção da perda de vazão do rio Araguaia requer grandes obras com especialização técnica em recuperação de rios para salvarmos o nosso querido Araguaia de uma degradação para o futuro. A minha colaboração está apenas fundamentada na observação, analisando padrões, causas e efeitos, conexões (vale e rio, leito maior e leito de vazante, perfil longitudinal do baixo curso até a confluência, pressão da água e vazante), extensão e localização geográfica, vertente e terraço fluvial. Assim sendo, apresento uma análise da fisiografia fluvial das águas correntes e das condições do desequilíbrio entre leito de vazante e leito maior do rio Araguaia.
Iacyr Milhomem Fernandes, é professor e biogeógrafo. Araguatinense, residente em Belém-PA, filho de Moacir Fernandes e Maria de Lourdes Milhomem Fernades.