O médico anestesiologista Mauro Coelho Ribeiro, acusado de abusar sexualmente de uma adolescente de 14 anos, foi liberado do Presídio Estadual Metropolitano, em Marituba, por conta de um habeas corpus concedido pela desembargadora Albanira Bemerguy. Após ser libertado, o médico conversou pela primeira vez com a imprensa para defender sua inocência.
“Eu me sinto indignado com a atitude de uma autoridade policial, que ouvindo uma acusação irresponsável de uma menor, que corria risco de vida por causa de um aborto provocado, mandou me prender”, afirmou. Ele disse também que em nenhum momento ficou sozinho com a adolescente. “Ela mentiu, não sei o que levou essa jovem a fazer isso”, acrescentou Mauro.
Mauro Ribeiro foi preso na quarta-feira da semana passada, após ter sua prisão em flagrante decretada pela acusação de estupro de vulnerável, contra uma adolescente que se submeteu a um procedimento de curetagem na Santa Casa de Misericórdia do Pará no dia anterior à sua prisão. Vários parentes do médico, inclusive seus pais, foram à porta do presídio para aguardar sua liberação.
“Meu filho tem 23 anos de profissão, ele salva a vida das pessoas, só faz o bem. Não sei o que deu nessa menina pra inventar essa história”, disse a mãe do médico, Regina Ribeiro. “Agora ele vai responder o processo em liberdade. A prisão em flagrante foi arbitrária, ele foi abordado por dois investigadores da Polícia Civil no dia seguinte ao fato (que gerou a acusação) e, chegando na delegacia, a delegada mandou prendê-lo em flagrante”, disse o advogado Arthêmio Leal.
O advogado de defesa acrescentou que, mesmo considerando a prisão arbitrária, não pretende, por enquanto, responsabilizar judicialmente o Estado ou a autoridade policial pelo fato. “Vamos aguardar a conclusão do processo”, afirmou.
O caso
O médico anestesiologista Mauro Coelho Ribeiro foi preso no último dia 21, acusado de abuso sexual contra uma garota de 14 anos, submetida a um procedimento de curetagem no Hospital da Santa Casa de Misericórdia, após sofrer um aborto espontâneo.
Justiça condenou 2 profissionais
O DIÁRIO DO PARÁ teve acesso a dois processos envolvendo profissionais da Medicina, condenados por abusar de menores de idade este ano. A primeira condenação saiu em março de 2009, envolvendo um famoso e renomado cardiologista de Belém. Ele teria praticado atos libidinosos contra uma adolescente de 17 anos, em 2008, dentro do seu consultório. Como não houve conjunção carnal, o médico foi condenado ao pagamento de cestas básicas a uma instituição de atendimento social, fato não divulgado à época do ocorrido.
Outro caso igualmente sério e que não teve repercussão pública foi o que condenou o médico Sinval dos Passos Lyra a 12 anos e seis meses de prisão em regime fechado na Penitenciária de Americano. Sinval é acusado de estuprar uma menor de 14 anos, no município de Soure, no Marajó, onde trabalhava. No dia 9 de setembro de 2008 ele teria forçado a vítima a manter relações sexuais dentro de um carro. A sentença foi dada dia 7 de outubro. O médico apenas aguarda transferência para Belém. Além dele, foi condenada a oito anos e nove meses de reclusão, Fernanda Lima Gomes. Ela teria assediado a vítima a entrar no carro do médico e forçado-a a se relacionar com ele.
“Os dois casos são importantes por terem tido sentença favorável à denúncia. Isso é um avanço significativo”, afirma Marinor Brito, coordenadora do Fórum Municipal de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Para ela, os casos estão ganhando repercussão e condenação exemplar, devido à pressão da opinião pública. “É muito raro a conclusão da sentença. Isso acontece hoje, graças à pressão da sociedade civil e das CPIs. O que queremos agora é o real cumprimento da sentença. Os processos estão sob vigilância da sociedade civil”, garante.
Marinor diz que uma das funções do Fórum é fazer o monitoramento de questões pertinentes à rede de proteção e dos casos de abuso contra crianças e adolescentes. O Fórum promete, inclusive, uma mobilização para o depoimento do ex-deputado Luiz Sefer, no Tribunal de Justiça do Estado no próximo dia 27. “O Fórum também deve entrar com uma representação no Conselho Regional de Medicina para cassar o diploma desses médicos”, promete.
A reportagem tentou contato com o Conselho Regional de Medicina para comentar a conduta dos médicos, mas não conseguiu. (Diário do Pará)




