A vila de Serra Pelada, no município de Curionópolis, conta com energia elétrica desde 1983, mas o fornecimento é precário e até hoje a falta é constante. Em algumas semanas a interrupção do fornecimento chega a perdurar cinco dias consecutivos, e o pior é que toda semana pelo menos um dia a vila fica sem luz elétrica. A manutenção da rede que abastece uma precária subestação no distrito é feita pela Associação de Consumidores de Energia Elétrica de Serra Pelada (ACEESP).
Segundo o presidente da entidade, José Fernandes, popular “Dedê”, os moradores não pagam o consumo de energia, mas colaboram com a entidade com valores simbólicos que são usados no suporte quando é necessário deslocamento para alguma área que apresente problemas na rede elétrica.
A direção da ACEESP informou que uma medida paliativa está sendo providenciada pela Rede Celpa, responsável pela distribuição de energia no estado, para diminuir as constantes faltas de energia elétrica em Serra Pelada.
A medida seria a mudança de um linhão que se localiza numa área de mata densa, chamada de paredão, para as proximidades da estrada de acesso à vila. Mas mesmo com a mudança, a manutenção da rede continuará sendo feita pelos membros da associação.
Delma de Moraes é comerciante e confirmou que a vila fica realmente sem energia e que a falta é constante: “Nesta semana (passada), ficamos dois dias sem energia. Só não tivemos maiores prejuízos porque fizemos investimento de R$ 300 em um motor elétrico”, explica.
Luis Gonzaga, do Bairro Morumbi, que reside em uma casa com mais seis pessoas, afirma que a comunidade não paga o consumo de energia, mas sofre com o descaso da Celpa. “Quando falta energia corremos o risco de também ficar sem água, porque a bomba do poço é movida a energia elétrica. Para evitar o problema em dobro, compramos caixas d’água que ficam sempre abastecidas. Mas esse é só um dos diversos constrangimentos que sofremos com o descaso”, lamenta o morador.
Proprietário de uma papelaria, Cláudio Moraes apela para a tecnologia na tentativa de evitar maiores prejuízos em seu comércio. Nobreaks são usados nos computadores, enquanto um gerador de energia garante o fornecimento quando a rede elétrica não funciona. O empresário diz também usar disjuntores em todos os equipamentos, para evitar danos. “Uso tudo isso porque se eu não tomar esses cuidados os prejuízos com equipamentos seriam enormes”, enfatiza Cláudio Moraes, reforçando que a comunidade está longe dos olhos das autoridades e gostaria que os responsáveis pela energia atentassem sobre a necessidade da comunidade.
No início da noite da última sexta-feira (5), quando esta matéria estava sendo produzida, mais uma vez a vila de Serra Pelada ficou sem energia. O comerciante Ricardo Viana foi ouvido à luz de velas, relatando que o sofrimento à noite sem energia é enorme. “Ficamos sem ver TV, o telefone também para de funcionar e ainda temos que suportar o calor e ataque dos mosquitos, já que não podemos contar com ventilador, e isso sem falar que a vela fica sendo nossa principal companheira”, relata.
O posto de saúde da vila, que fica a 50 quilômetros do centro de Curionópolis, é outro ponto afetado pela falta de energia, fato que interfere até nos atendimentos de emergência. Segundo uma técnica em enfermagem que pediu para não se identificada, curativos e suturas são feitos à luz de velas.
A profissional de saúde afirmou ainda que, no caso de vacina, o problema é mais grave. “Não temos vacinas no posto de saúde porque com a constante falta de energia as câmaras frias não garantiriam a eficácia do injetável preventivo. Se alguém tiver um corte e precisar de uma antitetânica ou for mordido por um cão ou gato, e precisar de uma vacina anti-rábica, terá que se deslocar até Curionópolis”, denuncia a técnica de enfermagem. (Waldyr Silva, com informações da Agência Bateia)




